terça-feira, 24 de maio de 2011

Manicômio Fiscal V

Sobe o pano. Cenário: Repartição da Prefeitura. Personagens: Atendente e Cidadão.

Cidadão – Boa tarde! Eu quero pintar a minha casa e consertar o telhado, e me disseram que tenho de pedir licença à Prefeitura...
Atendente – Isso mesmo! O senhor preenche esse formulário e dá entrada no protocolo. Pode preencher ali na parede... se a caneta falhar, molha a ponta na língua, eu sempre faço isso, hi-hi-hi. Quando o senhor terminar traz aqui pra eu ver.
(O cidadão, com muita dificuldade, preenche o formulário)
Cidadão – Aqui está o formulário. Alguns dados não consegui preencher...
Atendente – Quais foram?
Cidadão – O nome do Engenheiro. Eu não vou contratar Engenheiro.
Atendente – Não vai!? E quem vai ser o responsável técnico?
Cidadão – Ora... Eu mesmo vou pintar a casa e o Zé Bode vai consertar o telhado.
Atendente – O Zé Bode é Engenheiro?
Cidadão – Não!! É um quebra-galho lá da rua. A senhora sabe, quando ele não bebe até que trabalha bem.
Atendente – O senhor vai ter que contratar um Engenheiro.
Cidadão – Mas é pouca coisa! Uma pinturinha de cal, uns caibros novos, algumas ripas...
Atendente – Desculpe, mas são ordens da casa. O senhor também não escreveu o número do registro da escritura, é obrigatório.
Cidadão – Escritura? Eu não tenho escritura, sou posseiro há mais de quarenta anos.
Atendente – Olha, assim está muito difícil a Prefeitura autorizar a reforma. Outra coisa, o senhor tem que juntar certidão negativa do IPTU.
Cidadão – Ah, isso eu consigo. A senhora sabe, eu pago religiosamente o IPTU. A senhora pode ver aí no computador.
Atendente – Estou vendo aqui, está tudo direitinho, mas eu preciso da certidão negativa.
Cidadão – E onde consigo essa certidão?
Atendente – Lá na Secretaria da Fazenda. O senhor preenche um requerimento e protocola. Em um mês, no máximo, a certidão já estará pronta.
Cidadão – Um mês!? Mas eu quero começar a obra amanhã!
Atendente – Huum... Não aconselho não. Se o Fiscal pegar vai te multar. De qualquer modo, o senhor vai lá no caixa e paga a taxa de reforma, são cinquenta reais.
Cidadão – Mas eu tenho que pagar essa tal de taxa?
Atendente – Tem, sim senhor. E para adiantar, o senhor paga logo a taxa da certidão, são mais cinquenta reais.
Cidadão – Minha senhora! Isso vai ficar mais caro que a reforma.
Atendente – São ordens da casa. O senhor faz isso e depois volta aqui para dar entrada no requerimento, mas, posso lhe dar uma dica?
Cidadão – Sim, é claro!
Atendente – Eles não vão aprovar sua reforma, mesmo que pague as taxas.
Cidadão – Por quê?
Atendente – O senhor não tem escritura, não tem Engenheiro... Eles são muito rígidos com isso.
Cidadão – Então, o que eu devo fazer?
Atendente – Ah faz a sua reforma e deixa a Prefeitura pra lá.
Cidadão – E se o Fiscal me pegar?
Atendente – Que Fiscal? A gente não tem Fiscal, hi-hi-hi.

Desce o pano.

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