terça-feira, 24 de maio de 2011

Manicômio Fiscal VI

Sobe o pano. Cenário: Gabinete do Prefeito de Betuminoso. Personagens: o Prefeito, um Vereador e o Secretário de Fazenda.

Prefeito – Meu Vereador favorito!! Você sabe que preciso do seu apoio na aprovação do Código Tributário. Conto com você!!
Vereador – O senhor sabe que pode sempre contar comigo! Mas eu pedi essa reunião com o senhor porque tem umas coisas complicando a aprovação...
Prefeito – A gente resolve, a gente resolve, o que te aflige meu Vereador?
Vereador – Bem, o Dr. Salamandra veio falar comigo... Está nervoso... O senhor conhece o Salamandra, o dono do hospital...
Prefeito – Claro que conheço! É meu amigo do peito!
Vereador – Pois é. Ele disse que pagar esse tal de ISS sobre a receita bruta é um absurdo. Afinal, ele não ganha isso tudo, tem despesas de remédios, de comida, de luz, de empregados, tem um monte de despesas... Como vai pagar o ISS pela receita bruta?
Prefeito – Ta aí... Até que tem razão... Um pedido justo, não acha Secretário?
Secretário – Prefeito... O ISS é pelo valor bruto...
Prefeito – Valor bruto que entra no bolso do sujeito! E não o valor bruto que fatura, ora, não é assim Vereador?
Vereador – É isso que ele diz, Prefeito.
Prefeito – O pleito não é justo, é justíssimo!!! Está aprovado!
Secretário – Prefeito, cuidado com a isonomia...
Prefeito – E quem vai ligar pra essa coisa! Se alguém isomiar eu isomio na frente! É por isso que sou Prefeito! Eu tenho a caneta, não é mesmo Vereador?
Vereador – Afirmativo, Prefeito, afirmativo. Está fechado, então?
Prefeito – Fechadíssimo! Anota aí, Secretário. Tem mais alguma coisa?
Vereador – Tem sim. O senhor sabe que eu moro no Condomínio Pavão Maravilhoso...
Prefeito – Me disseram e eu não acreditei! O lugar mais luxuoso de Betuminoso! Como é que você conseguiu, Vereador?
Vereador – Bem, o senhor sabe que ganhei na loteria uns dois anos atrás, até te emprestei uma graninha, o senhor lembra?
Prefeito – Claro que lembro! Falou bem, uma graninha...
Vereador – Que o senhor até hoje não me pagou...
Prefeito – Isso é outra história, mas vamos lá, o que tem o Condomínio Pavão Maravilhoso?
Vereador – O senhor sabe que todos os condôminos só compraram o terreno, o lote, e a construção foi por nossa conta. Agora, essa lei quer cobrar o IPTU de tudo, do terreno e da construção. Isso não é justo, Prefeito. Afinal, fomos nós que construímos. O IPTU devia ser só do terreno...
Prefeito – Huuum, é justo, vocês vão pagar de uma coisa que vocês mesmo construíram... Isso está errado, não é mesmo, Secretário?
Secretário – Prefeito, o IPTU incide sobre o valor venal...
Prefeito – Mas nem todo mundo que mora lá é venal, Secretário! Ora, os venais que paguem, mas não as pessoas corretas, como o nobre Vereador aqui!
Vereador – Se tem algum venal lá que a polícia bote na cadeia!
Prefeito – Cuidado, Vereador, cuidado com o que fala... O Ministério Público acha que todo político é venal, o senhor sabe.
Secretário – Estou falando do valor venal...
Prefeito – Valor venal, valor moral, tudo depende da lei! Anote aí, IPTU do Pavão Maravilhoso só do valor moral, Os venais que se lasquem!!
Vereador – Então está fechado?
Prefeito – Fechadíssimo!! Aliás, quanto te devo daquela graninha que você me emprestou?
Vereador – Xii Prefeito, até já esqueci o valor. Não esquenta não.
Prefeito – Então, assunto encerrado. Mais alguma coisa, Vereador?

Desce o pano.

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