sexta-feira, 10 de junho de 2011

Manicômio Fiscal X

Uma pequena cidade de Minas Gerais, população de uns seis mil habitantes.
Sobe o pano. Cenário: Setor de Atendimento ao Contribuinte. Personagens: a Servidora atendente e o modesto contribuinte, mineiro de sangue, tradição e desconfiadíssimo.
Contribuinte – Bom dia, eu queria, sabe, aquele papel para pagar o IPTU da minha casa.
Servidora – Uai, gente! O senhor não sabe não? O Prefeito isentou todo mundo de pagar o IPTU!
Contribuinte – O Prefeito fez o quê?
Servidora – Deu isenção! Agora ninguém precisa pagar o IPTU.
Contribuinte – Mas... Isso está escrito?
Servidora – É claro, uai! É lei escrita e assinada!
Contribuinte – Mas... Que trem doido! Então, o Prefeito vai pagar o meu IPTU?
Servidora – Não!! Ninguém paga, é de graça!
Contribuinte – Quer dizer que ninguém mais paga IPTU?
Servidora – Isso mesmo!
Contribuinte – Mas... E quem vai pagar as despesas da Prefeitura?
Servidora – Ora... Deve ser o Governo Federal, não é mesmo?
Contribuinte – Então, eu tenho que pagar o IPTU no Governo Federal?
Servidora – Não!! O senhor não precisa pagar a ninguém!
Contribuinte – Mas... Que trem esquisito... A senhora, por favor, me diz o seguinte: como vou provar que quis pagar e não pude pagar?
Servidora – Ora, uai, não precisa provar nada, é a lei.
Contribuinte – Mas... Se um dia a Prefeitura resolve tomar a minha casa, como vou provar que o Prefeito pagou o IPTU no meu lugar?
Servidora – Uai, gente! Eu já disse que o Prefeito não vai pagar nada!
Contribuinte – Está certo, mas como vou provar que a Prefeitura não quis cobrar?
Servidora – O senhor vem aqui e pede uma certidão negativa.
Contribuinte – Que trem é esse?
Servidora – É um papel que prova que o senhor está em dia com o IPTU.
Contribuinte – Mas como a Prefeitura vai me dar um papel dizendo que estou em dia se não paguei?
(A Servidora começa a ficar nervosa)
Servidora – Minha Nossa Senhora! Tem uma lei que prova que o senhor não precisa pagar o IPTU!
Contribuinte – Ah, bom. Essa lei tem o meu nome direitinho? Olha que eu sou José Honofre, com H na frente. Muita gente escreve o meu Honofre sem H.
Servidora – A lei não tem nome de ninguém! Serve para todos!
Contribuinte – Olha, a senhora me desculpa, sei que a senhora é honesta, mas não estou gostando dessa história não. Eu preciso de um recibo que diz, tudo direitinho, que o meu imposto está em dia.
Servidora – Mas eu não tenho recibo nenhum para entregar ao senhor!
Contribuinte – Faz, então, o seguinte, por favor: vai lá dentro, procura o Prefeito e pede a ele o recibo do IPTU da minha casa.
Servidora – Meu bom Jesus!! O Prefeito não tem o seu recibo!
Contribuinte – Ora, não é possível, será que ele perdeu?
Desce o pano.

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