sábado, 11 de junho de 2011

Manicômio Fiscal XI

Roteiro: a empresa de informática “Lançatudo.com”, especializada em sistemas tributários, convenceu o Prefeito de que o seu programa triplicaria a receita em menos de um mês. Animado, o Prefeito promoveu a sua compra, cuja instalação foi festejada em pompa e circunstância. No dia seguinte...
Sobe o pano.
Fiscal senta diante do monitor e liga o sistema.
Monitor – Inicializando o programa Lançatudo. Aguarde um instante...
O Fiscal aguarda. Fica olhando o monitor, a rodinha rodando, rodando, rodando... Quinze minutos depois, resolveu levantar-se, tomar um café e discutir futebol com os colegas da Seção. De vez em quando, dava uma espiada no monitor.
Monitor – Inicializando o programa Lançatudo. Aguarde um instante...
De repente, abre o programa! O Fiscal, animado, volta a sentar-se diante do Monitor.
Monitor – Abra o Menu e clique no link desejado.
O Fiscal abre o Menu e surge um cardápio de uns duzentos serviços. O Fiscal procura a palavra “Cadastro” e finalmente a encontra, porque o cardápio não está em ordem alfabética. Clica em “Cadastro”.
Monitor – Inicializando o sistema de Cadastro. Aguarde um instante... E a rodinha rodando, rodando, rodando...
Dez minutos depois, surge uma tela nova com a seguinte mensagem:
Monitor – Digite a inscrição ou a razão social do contribuinte.
O Fiscal quer saber exatamente a inscrição e, assim, digita o nome: “Banco do Brasil S.A.”
Monitor: Inicializando a busca. Aguarde um instante... E a rodinha rodando, rodando, rodando...
O Fiscal aguarda. Algum tempo depois, surge a mensagem:
Monitor – A razão social solicitada não consta do cadastro. Verifique se o nome digitado está correto.
O Fiscal apaga o S.A. e deixa apenas “Banco do Brasil”.
Monitor: Inicializando a busca. Aguarde um instante...
O Fiscal se distrai olhando a rodinha rodando, rodando, rodando...
Surge a mensagem:
Monitor – A razão social solicitada não consta do cadastro. Verifique se o nome digitado está correto.
O Fiscal chama um colega que fez curso de informática.
Fiscal – Pafúncio!! Como é que consigo a inscrição do Banco do Brasil nesse sistema?
Pafúncio – Acho melhor você perguntar à Dona Vera.
O Fiscal se levanta e vai ao Cadastro procurar Dona Vera, trinta anos de serviço no Cadastro, tem tudo guardado na cabeça.
Fiscal – Dona Vera, a senhora sabe a inscrição do Banco do Brasil?
Dona Vera – A inscrição do Banco do Brasil da Rua da Matriz é 5.008; o da Rua do Carmo é 22.472; e a agência da Avenida Getúlio Vargas é 53.759.
O Fiscal agradece e retorna ao computador. Apaga a razão social e digita a inscrição 5.008.
Monitor – Inicializando a busca. Aguarde um instante... De repente, a tela congela e a rodinha para de rodar.
Fiscal – Pafúncio!! Parece que o sistema deu pau!
Pafúncio se aproxima, dá uma olhada, mexe no ratinho, nada.
Pafúncio – Acho bom você telefonar para a empresa. Esse número 0800 que está colado no computador.
Fiscal – Esse aqui?
Pafúncio – Não, cara! Esse é da pizzaria, aquele ali, junto do adesivo da farmácia.
O Fiscal pega o telefone e disca o número.
Telefone – Obrigado por telefonar ao Lançatudo! Digite 1 se for pagamento de fatura, digite 2 se for emissão de segunda via de fatura, digite 3 se for parcelamento de dívida... Digite 14 se for referência à mãe do Diretor Presidente, digite 15 se for comentário ou fofoca...
Fiscal – Pafúncio!! Qual é o número que eu digito?
Pafúncio – Digita qualquer um que eles atendem.
O Fiscal digitou um número qualquer.
Telefone – Os ramais estão ocupados. Aguarde um instante ou ligue mais tarde. E começa uma musiqueta.
O Fiscal aguarda, com os dedos tamborilando a mesa. Tenta adivinhar a música que está tocando (“acho que é Vivaldi, as Quatro Estações... Essa parte é Verão ou Primavera?). Quando a música já estava no Inverno, a ligação cai.
Fiscal – Pafúncio!! A ligação caiu!!
Pafúncio – Afinal, o que você quer?
Fiscal – Eu quero saber se o Banco do Brasil pagou o ISS do mês passado.
Pafúncio – Ora, volta lá na Dona Vera que ela te informa tudo.
E lá vai o Fiscal, a procura de Dona Vera, assobiando o refrão da Primavera de Vivaldi, realmente um calmante às aflições do cotidiano.
Desce o pano.

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