quarta-feira, 15 de junho de 2011

Manicômio Fiscal XIII

Roteiro: Maria e Pedro são dois Fiscais Tributários com mais de 30 anos de serviços. Não se aposentam por que a lei exclui dos proventos o adicional de produtividade, que representa 70% de seus rendimentos. São obrigados, então, a continuar trabalhando. Numa certa manhã de segunda-feira:
Sobe o pano.
Maria – Bom dia, Pedro... O café já chegou?
Pedro – Não... A garrafa ainda tem café de sexta-feira... Luisinho melhorou?
Maria – Mais ou menos... Continua tossindo... Vou levá-lo no posto de saúde...
Pedro – Não leva hoje não! Hoje é o Dr. Pirróida!
Maria – Aquele maluco? Vou amanhã, deve ser o Dr. Madaleno... Gente fina...
Pedro – Você viu a nova lei do ISS? Foi publicada hoje.
Maria – Nova lei? Nem sabia que estavam fazendo uma nova lei.
Pedro – Aquele advogado novo, que se formou no ano passado, convenceu o Prefeito...
Maria – Ah, sei quem é... Vem todo dia de terno e gravata?
Pedro – Esse mesmo. Dê uma olhada na lei (estendendo um papel). Têm coisas que não entendi...
Maria – Nossa! Tudo isso?
Pedro – Veja aí o Capítulo XXXIV – Da Base de Cálculo.
Maria – Deixa eu achar... Achei! Vou ler: “A base de cálculo do imposto é a quantificação da grandeza financeira do fato tributário, mensurado de acordo com a realidade que se pretende medir, com a adoção da seguinte fórmula:
Ht/Fjt = Ct/Rjt, donde:
Ht = Hipótese Tributária;
Fjt = Fato Jurídico Tributário;
Ct = Consequência Tributária;
Rjt = Relação Jurídica Tributária.
Pedro – Não entendi nada... Você entendeu?
Maria – Estou tentando... Puxa! Eu acho, Pedro, que nós estamos ficando velhos...
Pedro – É mesmo... Era tão fácil... “A base de cálculo é o preço do serviço”, tão fácil de decorar.
Maria – Você perguntou aos colegas? Essa turma nova que está aí...
Pedro – Está louca! Vou me rebaixar! Eles vieram perguntar pra mim!
Maria – E o que você disse?
Pedro – Ora, eu disse que eles são uns burros, que a lei é claríssima! Que eles tratem de estudar!
Maria – E eles?
Pedro – Ficaram com vergonha e sumiram.
Maria – Você fez bem, não podemos dizer que não entendemos, a gente perde a moral.
Pedro – Pois é, mas, cá entre nós, eu acho que estamos ultrapassados. Esse cara de terno e gravata vive falando em quantum debeatur, exegese, endornas... Outro dia, ele falou num tal de conectivo lógico conjuntor... Olha aqui! Eu até escrevi pra não esquecer.
Maria – Isso não é coisa de informática, de eletrônica?
Pedro – Não! Ele falava de coisa tributária.
Maria – Eu acho, Pedro, que devemos ficar na nossa, fazer o nosso servicinho e não dar conversa pra ninguém.
Pedro – Concordo.
Maria – Mas veja se não fica com esse sorriso de velho babão pra cima das Fiscais novinhas, que elas correm pra te fazer perguntas!
Pedro – Eu estou preocupado com os Contadores. Vão fazer fila para perguntar o que significa isso.
Maria – Ora, se eles perguntarem vamos dizer que é uma forma sofisticada de dizer que a base de cálculo é o preço do serviço, e fim de papo.
Pedro – Está certo... Vamos até o bar tomar um cafezinho por que esse aqui vai demorar.
Desce o pano.

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