sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O custo do automóvel no Brasil

Para incentivar o consumo interno, o governo federal promove, de vez em quando, ofertas de reduções do IPI. No caso de veículos, a redução atual é a seguinte:
Carro de até 1000 cc – IPI de 37% passou para 30%;
Carro acima de 1000 cc até 2000 cc – IPI de 41 – 43% passou para 35,5 – 36,5%;
Utilitários – IPI de 34% passou para 31%.

Tais reduções propiciaram uma queda média máxima de uns 10% no preço de venda do carro, a depender do tipo do veículo. Por exemplo, um Fiat Mille Fire 1.0 que custava ao redor de R$23.650,00, passou para R$21.360,00 (10,72% de diferença); um Logan Expression 1,6 que custava ao redor de R$32.820, passou para R$30.490,00 (7,64% de diferença); um Nissan Sentra 2.0, que custava ao redor de R$52.990,00 passou para R$48.790,00 (diferença de 8,61%).

A verdade, porém, é que, mesmo assim, o preço de carro no Brasil é alto demais se comparado com outros países. E o motivo maior dessa exagerada diferença é justamente a carga tributária. Enquanto no Brasil a carga tributária dos veículos chega a ultrapassar o percentual de 40% do preço do veículo, nos Estados Unidos o percentual oscila de 6% a 9%. Nos demais países, a média percentual alcança a faixa de 16%. Esta é uma das razões por que um carro, como o Nissan Frontier custa R$121.390 no Brasil, e nos Estados Unidos o seu preço é de R$63.450 (dólar convertido na base de R$2,02). Ou seja, quase a metade do preço.

Fica, então, a pergunta de um leigo em econometria e política econômica: em vez de ficar fazendo promoções temporárias de redução de imposto, com vistas a aumentar o consumo, por que não reduzir logo a alíquota de uma vez por todas? Não teríamos assim um fluxo normal de consumo, sem a necessidade de incentivos ocasionais?

Os especialistas em mercado dizem que a política de preço de um produto depende da concorrência e da elasticidade da demanda. Em outras palavras, uma empresa não pode aumentar desmedidamente o preço de seus produtos (e assim maximizar seus lucros) sem manter equilíbrio em relação aos preços de produtos similares concorrentes; e não pode deixar de avaliar a demanda de compradores, que pode aumentar ou diminuir em função do preço ofertado. 

A dizer com isso que a margem de lucro das empresas vai depender da política adotada na fixação do preço, isto é, de olhos na concorrência e na demanda. Evidente que todas as empresas almejam um lucro cada vez maior, mas a ambição do lucro maior não significa necessariamente aumentar o preço de seus produtos. Há casos em que a redução do preço de venda, em vez de prejudicar a margem de lucro, pode proporcionar maiores ganhos em volume.

Algumas décadas atrás, a japonesa Honda entrou no mercado americano com um política agressiva de venda, com preços inferiores aos dos concorrentes locais. Foi uma grita geral de protestos dos americanos nacionalistas, mas a Honda foi um sucesso de venda. Qual foi a política da Honda? Produzir em escala uma maior quantidade possível de carros, manter a qualidade e diminuir o custo por produto, podendo, assim, vendê-lo por preço inferior ao da concorrência. E manteve uma margem pequena, mas razoável, de lucro para ganhar na quantidade, no volume de venda.

Mas tudo gira em torno de um planejamento de marketing, sério, criterioso e formulado para produzir efeitos durante um longo ou médio prazo. Seria cabível, então, considerar que essa redução do IPI, de 7 a 8%, veio representar uma redução de uns 10% no preço do carro? É certo que não! As montadoras deram apenas uma resposta promocional, para efeito de uma comercialização momentânea, aproveitando-se até para aliviar seus estoques de alguns modelos mais problemáticos de venda.

A verdade é que as montadoras não irão reformular suas políticas de preço por motivos ocasionais ou passageiros. Preço é assunto de vital importância para elas, e não ficarão brincando de trocar suas políticas ao sabor de eventos efêmeros. Podem, sim, reformular seus preços diante de uma mudança firme e permanente nos seus custos, a permitir-lhes uma revisão do mercado como um todo.

Em conclusão, se o governo adotar de forma segura e firme, sem provocar sustos e dúvidas angustiosas aos empresários, uma política de custo tributário menor e permanente da carga tributária, fatalmente a política de fixação de preço (e de lucro) das empresas será reexaminada e direcionada ao aumento do volume de suas vendas, e proporcionando, assim, aumento de produção e, consequentemente, de emprego. Talvez assim pudéssemos ter preços de veículos no Brasil mais compatíveis aos preços lá de fora.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Notícia em jornal futurista IV

Congresso aprova alteração no crime de peculato

O Congresso Nacional aprovou projeto de lei que faz alterações no Código Penal ao tratar do crime de peculato. O projeto segue para sanção presidencial. Abaixo, o teor do projeto:

Projeto de Lei nº 182.320, de 12 de março de 2020.

Art. 1º. Ao art. 312 do Decreto-lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940, denominado Código Penal, são acrescidos os seguintes parágrafos:

§ 4º - Não se considera peculato quando o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel for entregue diretamente:

I – ao servidor público beneficiado;
II – ao cônjuge, ou assemelhado, do servidor público beneficiado;
III – aos filhos, enteados, mãe ou pai, madrasta ou padrasto, do servidor público beneficiado. 

§ 5º - Nos termos do inciso II do parágrafo anterior, considera-se assemelhado o companheiro que, comprovadamente, manter união estável, contínua e duradoura, com o servidor público beneficiado.

Art. 2º. Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, com efeitos ex tunc.


Shing Lee da Pastelaria                                              José Sarney
Presidente da Câmara                                           Presidente do Senado

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Conversa de Fiscais Municipais II

“Agatha Christie” entra em ação novamente!

- Poxa! Mais uma do Simples Nacional? Não tem outra coisa pra gente fiscalizar não?
- Você quer o quê? Hoje, toda empresa é do Simples...
- Vamos lá intimar?
- Calma! Ela já foi notificada que está sob fiscalização e não precisamos sair correndo.
- Você está fazendo o quê?
- Senta aí e me ajuda! Estou olhando os relatórios e os pagamentos do ISS. Olha aqui!
- Ela não paga quase nada de ISS...
- Pois é! Quando emite a guia única ela exclui o ISS! Só paga os federais!
- E pode isso?
- O portal aceita! A empresa pode ter sofrido retenção na fonte.
- E será que houve tanta retenção assim?
- Aí é que está! Olha aqui os relatórios de ISS pagos por retenção! Cadê o nome da empresa?
- Deixa eu ver... Achei! Olha aqui!
- Este eu tinha visto! É o único! E olha quem fez a retenção? A Prefeitura!
- Ah, ela presta serviço aqui pra nós...
- Um serviço só! E você sabe que a Prefeitura retém tudo, até o que não deve!
- É mesmo! Outro dia tinha um cara reclamando que vendeu material hospitalar e a Prefeitura fez retenção do ISS. Até venda de mercadoria a Prefeitura retém ISS!
- Pois é... A tesouraria tem ordem de reter tudo e o pessoal de lá não quer saber!  
- Mas me diz uma coisa, esta empresa não é daqui da cidade? A retenção não é só de empresas de fora?
- Cara, estão fazendo uma confusão danada, mas não vamos perder o fio da meada! Onde estão as outras retenções? Não têm!
- Então ela está fingindo que sofreu retenções... Ou então, quem reteve não recolheu...
- Você está certo. Temos que investigar quem está sonegando, a empresa ou os tomadores de serviços dela.
- Lá vem você com essa mania de Sherlock...
- Sherlock não! Já te falei! Tuppence Beresford!
- Ah, a Tup daquela gata!
- Não sacaneia! Temos então que intimar para apresentar as notas fiscais e os contratos de serviços. Vamos descobrir quem são os clientes dela.
- Contratos? Ela vai dizer que não tem, você sabe como é...
- Tem que ter! Ela é fornecedora de mão de obra e a lei federal exige contrato!
- E ela vai dizer que é só uma agência de emprego...
- Que agência, cara! Ela fornece gente para serviços temporários, gente dela! Eu já olhei o contrato que ela fez com a Prefeitura. Não tem nada de agência!
- Mas, pera aí! Se ela é fornecedora de mão de obra, ela não pode ser do Simples! A lei proíbe!
- Ah Ah! Você está entrando no âmago da questão! Se comprovarmos que ela é fornecedora, a gente exclui do Simples!
- Mas como deixaram entrar no Simples uma fornecedora de mão de obra?
- Fácil! Ela registrou o CNAE de seleção e agenciamento de mão de obra. Veja aqui: 7810-8 e não 7820-5 que deveria ser. A Receita Federal engoliu!
- E a bomba cai na mão da gente!
- E seria diferente? Vamos preparar a intimação com muito cuidado, não podemos esquecer nada!
- Você adora essas confusões, não é?
- Ah, já estou a mil... Talvez eu peça ajuda ao Poirot...
- Porrô! Quem é este Fiscal? 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Conversa de Fiscais Municipais (a lá Aghata Christie)

- Eu não te disse? Esse Hospital trabalha direitinho, a gente não encontra nada de errado.
- Cara! Quanto mais velho mais burro tu és! Esse Hospital sonega e muito!!
- Qualé! Estamos aqui há uma semana, olhamos tudo, checamos tudo, e não encontramos nada!
- É mesmo? Se você não ficasse paquerando as enfermeiras em vez de fiscalizar, descobriria um monte de coisa!
- Eu não paquerei enfermeira nenhuma, tá ouvindo? Só tem dragoneti...
- Você é um despeitado! Por acaso você não percebeu a quantidade de gente que é atendida?
- Ora, e daí? É um Hospital movimentado...
- Eu te pergunto, quantas notas fiscais o Hospital emite por mês?
- Umas trezentas, não é?
- Certo! Umas trezentas, o que dá umas quinze por dia útil, está certo?
- Em média, tá certo, se não considerar o sábado...
- Vou esquecer os sábados; e você viu quantas pessoas são atendidas por dia?
- Ah, eu não fiquei contando...
- Mas eu contei! São 30 cadeiras sempre ocupadas na recepção. Meia hora de espera e mais ou menos uma hora de atendimento. Fiz os cálculos: dá uns 240 atendimentos por dia! Abato uns 30% só por garantia; vai dar, arredondando, uns 170 atendimentos. E só emitem quinze notas por dia...
- Caraca! Não percebi isso.
- Mas eu percebi! Enquanto você olha, eu observo! As minhas células cinzentas trabalham...
- Você parece uma Sherlock!
- Sherlock não! Prefiro Tuppence...
- Tup o quê?
- Tuppence, personagem de Agatha Christie, uma mulher danada de esperta!
- Não conheço essa gata que você falou... Trabalha em novela?
- É Agatha!! Ah, esquece... A verdade é que nós, Fiscais Municipais, temos que às vezes dar uma de detetive. Não temos aquilo que chamam de inteligência fiscal. Os auditores federais têm tudo nas mãos: cruzam informações, sabem a movimentação financeira nos bancos, sabem as transmissões imobiliárias, sabem tudo! Por isso, ficam lá nos seus gabinetes, sentadinhos, não precisam ir a campo.
- É verdade... Trabalho braçal é com a gente...
- E você sabe o que mais descobri?
- O quê?
- Enquanto você ficava lá de conversa mole com as enfermeiras, eu me enturmei com a clientela, fiquei lá do lado da mulherada batendo papo...
- Isso eu vi! Pensei: em vez de trabalhar fica lá de fofoca com as velhinhas...
- Fofoca uma ova! Em me entrosei com as pacientes e sabe o que descobri?
- O quê?
- O Hospital só emite nota fiscal de atendimento com planos de saúde, convênio, essas coisas. Os particulares, que pagam em dinheiro, só recebem um recibinho, nada de nota!
- Puxa! A gente precisava botar as mãos nesses recibinhos...
- Ah – Ah! Enquanto você está indo eu já estou voltando! Olha aqui! Consegui oito recibinhos...
- Cacilda!! Como você conseguiu, cara?
- Ora, eu pedi às pacientes, contei que era Fiscal... Elas me deram...
- Ah, agora ficou fácil...
- E tem mais! Você por acaso percebeu o luxo do Hospital? Mobiliário novo, equipamentos de primeira, aparelhagem de última geração...
- Isso eu vi, mas e daí?
- Pois me diga como eles conseguem tudo isso com a receita mixuruca que apresentam? De onde vem o dinheiro?
- Eu examinei a folha de pagamento de pessoal e é bem modesta...
- Cara! Tu és burro mesmo! Aquela folha é fajuta! Só tem 30 funcionários nela! Cadê o resto?
- É mesmo... Uma enfermeira me disse que tem 20 enfermeiras lá...
- Vinte enfermeiras! Na recepção tem 10 atendentes. Pronto! Já matou a folha! Cadê os médicos? Cadê o pessoal da faxina? Cadê o pessoal de laboratório?
- Podem ser terceirizados...
- Ah é? E cadê os contratos de fornecimento de mão de obra? Cadê a retenção do ISS?
- Isso mesmo! Eles disseram que não têm retenções na fonte...
- Tá vendo? E ainda acha que está tudo direitinho?
- Não! Você tem razão... Temos que arbitrar...
- Calma! Já está na rede! Agora eu quero saber de onde vem o dinheiro.
- Ora, do caixa dois.
- Eu sei, mas a lavagem tem que ser escriturada. Eu vi na contabilidade alguns empréstimos ao Hospital, são meio estranhos...
- Mas isso já não é nosso problema...
- Eu sei, mas Tuppence não para no meio do caminho...
- Ah, a personagem daquela gata que você falou...
- Que gata coisa nenhuma! Cala a boca!! Tu és burro mesmo!!
- Caraca! Não sei como o teu marido te aguenta!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ensino Público – Reminiscências

Às vezes exagero nas ironias e depois fico com remorso. Um desses casos é o de falar mal do ensino público, não como crítica ao Poder Público por sua inoperância e desfaçatez na gestão da educação, não há qualquer resquício de remorso neste aspecto, mas em relação ao próprio Ensino Público por sua vital importância no futuro do nosso País.

Podem torcer o nariz os modernistas, mas sou de um tempo em que o Ensino Público era referência de qualidade e de rigor. Na minha cidade, o Colégio Nilo Peçanha, Escola Pública do Estado, era o ponto mais alto de conceito exemplar de ensino. Nós, que não conseguíamos ingressar no Liceu por deficiências nossas, olhávamos com profunda admiração (e certo grau de inveja) os alunos daquela Escola, quando passavam por nós, vestidos com aquele uniforme impecável, inconfundível.

Na minha rua havia uma escola pública (acho que ainda existe), cujo nome era, ou é, Baltazar Bernardino. Por despeito, nós chamávamos os alunos da Escola de “Besta Burro”, por causa do BB de seus uniformes. E eles circulavam com a cabeça erguida e peito estufado, orgulhosos, realmente eles eram bestas, aqueles caras metidos, mas de burro não tinham nada.

O único do nosso grupo de amigos que estudou no Baltazar Bernardino foi o Pitéu. Passou em primeiro lugar no vestibular de Física na Universidade Federal. Não tinha nada de cota, passou por estudo mesmo! Deu um banho no resto da nossa turma de escolas particulares.

Quem não queria nada com a hora do Brasil estudava nos colégios particulares PP (pagou passou). Bem, deve-se ressaltar que nem toda escola particular era PP, havia, sim, escolas particulares muito boas, algumas até a rivalizar com as públicas. Escola Pública não era lugar de mediocridade, quem não estudava era reprovado, e com dois anos de reprovação era expulso. Não tinha conversa, não tinha chororó de mãe, não tinha ameaça ou pressão aos professores.

Ah, os professores! Quando entravam na sala os alunos se levantavam em sinal de respeito. Hoje são recebidos com vaias e saraivada de bolinhas de papel ou de coisa pior. Os professores estão desmoralizados, ridicularizados e desprezados. Além de ganhar um salário vergonhoso, são obrigados a tolerar as agressões, verbais e físicas, que sofrem. São de tal forma humilhados que acabam vencidos e não mais se importam em ensinar. Simplesmente cumprem horário.

Sou do tempo em que os professores, além de ensinar, educavam os alunos. Questões sobre a moral, a ética, a cidadania, a civilidade eram abordadas nas salas de aula, não importava a matéria ministrada por eles. Não dizer que não havia maus alunos, farristas e bagunceiros (eu era um deles), mas fazíamos as nossas artes escondidos dos professores e o mais distante possível de seus olhares. Sabíamos que, se pegos, a punição viria incontinenti, imperdoável. E não foi por tais punições e rigor que se criou uma geração de debilóides e pervertidos. O desencanto está nas escolas atuais, verdadeiras casas de tolerância, no sentido, é claro, de tolerar, aceitar, submeter-se aos ditames de uma “política” educacional frouxa e corrupta.

Até hoje, já velho, ainda me lembro dos nomes dos meus professores em minha infância e adolescência. Ainda me lembro de seus ensinamentos, suas regras de memorização. Quem pode se esquecer do TUTANUCA do Professor Portugal Neves, para decorar as tribos indígenas (Tupis, Tapuias, Nuaruaques, Caraíbas). E as fórmulas de teoremas do Professor Rego Melo? E o mapa de rios do Professor Vieira? E as técnicas de desenho do Professor Jardim?

Mas não se preocupem com este tom nostálgico. Afinal, são apenas reminiscências de um velho.

sábado, 18 de agosto de 2012

Notícia em jornal futurista III

Suprema Corte pensa unificar idioma em seus julgamentos

A Suprema Corte resolveu colocar em debate interno a unificação do idioma falado pelos Ministros durante os julgamentos em plenário. A decisão se deve ao emaranhado de idiomas utilizados, tendo cada Ministro predileção pelo idioma que melhor lhe apraz, o que vem prejudicando a própria comunicação entre eles. Tal fato foi evidenciado no último julgamento do chamado escândalo do Semanão, quando os Ministros não se entendiam nas interpretações e traduções de certas expressões idiomáticas.

O Presidente da Corte, Ministro Apaziguador Shao-Lin, disse no programa Fantástico que o seu voto seria desfavorável à unificação. “Temos um quadro de 400 servidores intérpretes e tradutores à disposição dos Ministros na Suprema Corte. Cada qual que fale no idioma que achar melhor”, explicou o Ministro.

A Ministra Kumiko Mei Maylin discorda do Presidente: “O idioma utilizado deveria ser unicamente o mandarim, já usado na televisão e em todos os manuais de produtos. Hoje em dia, até mesmo as instruções de como colocar fralda em neném vêm escritas em chinês”, disse a Ministra que já foi baby-sitter em sua juventude.

O Ministro Esquiva Falcão é totalmente contrário: “A Corte virou uma torre de babel, ninguém se entende! Tudo seria mais fácil se todos falassem em português, pois acho que esta ainda é a nossa língua”, ironizou o Ministro. Ao ser perguntado sobre a posição contrária de outros Ministros, explicou: “Abroquela-se no desarrazoado a guilda insulsa”.

Já o Ministro Justiniano Alexandrópolus dá preferência ao idioma grego romano. “Melhor seria o latim, mas ninguém mais fala fluentemente este idioma, acho que sou o único”, lastimou o Ministro.

O Ministro decano do Supremo Tribunal Federal, Jing-Quo Yong, concorda com a Ministra Kumiko Mei Maylin: “O português é falado somente nas classes mais pobres; o inglês é língua morta; o latim já foi sepultado há muito tempo; prefiro o mandarim”, sentenciou o Ministro.

Como se vê, o debate será acirrado. A discussão do tema está agendada para o próximo ano, que será o ano do dragão no calendário chinês.

Jornalista Ping Lee Tung da Agência China-Brazil News.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A população indígena

Repercutiu o resultado do Censo de 2010 do IBGE ao registrar o aumento de 11,4% da população indígena no Brasil, comparado aos dados referentes ao ano de 2000. Quando lembramos o genocídio praticado no passado, o extermínio total de tribos indígenas, como ocorreu com os Goitacás, os Botocudos e tantos outros, a notícia não deixa de ser auspiciosa. Outra novidade surpreendente foi o aumento do número de indígenas nos centros urbanos, nada menos que 36,2% da população indígena total.

Aqui na comunidade, como não podia deixar de ser, também temos uma tribo indígena. Ela surgiu quando correu a notícia que um pedaço da nossa terra era, no passado, local sagrado, talvez tenha sido um cemitério índio, e a tribo tratou logo de ocupar o espaço e montar sua aldeia. Na verdade, nenhum esqueleto foi encontrado, mas a presença de sambaquis serve de prova evidente que a área foi ocupada por índios no passado e deve então ser preservada. Sambaquis são acúmulos de conchas provenientes da coleta de moluscos. Os índios iam jogando as cascas em determinado local que acabava se transformando numa espécie de lixeira ou aterro sanitário.

Há certa discussão sobre a origem do tal sambaqui, pois os pescadores da região dizem que, antigamente, também acumulavam as cascas de siris, ostras, mexilhões e outros moluscos naquele local. Para evitar mau cheiro e a presença de urubus e ratos, de tempo em tempo cobriam as cascas com a areia da praia. De qualquer forma, os índios estão lá e afirmam que aquele sambaqui é marca registrada indígena e de lá não sairão, a não ser se as negociações com o governo e empresas imobiliárias redundarem em sucesso.

Por curiosidade, fui até lá conhecer os novos membros da comunidade, sendo recebido por um índio enorme, branco, louro e olhos azuis, que se chama Eckart Thamstein. Ele usa bermuda e um cocar de coloridas penas artificiais fabricadas na China. Disse o índio ter nascido em Dusseldorf, mas sempre quis ser índio, desde pequenino. Entre uma cerveja e outra contou que sempre torceu a favor dos índios nos filmes de faroeste e odiava o General Custer. Por este motivo, deixou a Alemanha e juntou-se à tribo dos seminoles na Flórida, onde trabalhou como bookmaker num dos cassinos temáticos da tribo. Mas os nativos americanos, muito desconfiados, não adotam índios brancos, fato comum aqui em nossas terras. E foi assim que, desiludido, largou os seminoles e veio para o Brasil. Todavia, dizem à boca pequena que Eckart fugiu após dar um desfalque no cassino, e os seminoles estão atrás do seu escalpo.  

Foi bom ter ido até lá, pois encontrei velhos conhecidos. Uma senhora, antiga vizinha na minha rua, contou-me que gostava de fantasiar-se de índia nos carnavais, e esse espírito índio parece que se incorporou e agora não quer ser outra coisa. Eu me lembrei que ela foi embora da minha rua depois que o marido fugiu de casa com a empregada, mas fui discreto e nada comentei. “Aqui, não pago pitiú, não pago água, não pago luz, a comida é dividida para todos e ninguém manda em mim”, disse a senhora enquanto fumava um enorme charuto da paz. Ela agora se chama Maria Arinhã.

O cacique gostou de mim e disse que ainda têm vagas de índio, caso me interesse. Estou pensando no convite, e amanhã pretendo dar um pulo até o Saara e ver preço de cocar e de penas chinesas. Dependendo do preço, quem sabe...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Entrevista de emprego

O portal da UOL (www.uol.com.br) apresentou interessante matéria sobre a maneira de como se deve comportar-se o entrevistado durante a entrevista de emprego. A matéria foi baseada nos ensinamentos do Professor Sandro Caramaschi, da UNESP, e na obra “O Corpo Fala”, de Pierre Weil e Roland Tompakow, editora Vozes.

Levando em conta o fato de que no próximo ano teremos novos Prefeitos em muitos Municípios, e muita gente está pensando em conseguir emprego nas Prefeituras, transcrevemos algumas dicas apresentadas na publicação da UOL, enriquecidas com nossas valiosas contribuições.

Dicas de comportamento:

Olhos - olhe nos olhos do entrevistador, mas não constante ou fixamente, o que pode representar agressividade. Olhar desviado (olhando para os lados), por sua vez, pode representar desinteresse. Aliás, se você for responder uma pergunta e ficar olhando para o lado esquerdo do interlocutor, a resposta é mentirosa; se ficar olhando para o alto, a resposta foi inventada. Em suma, mesmo mentindo ou inventando não deixe de olhar o entrevistador, pois mesmo que ele saiba que a história é irreal, ele ficará impressionado com a sua cara de pau.
Cabeça - mantenha a cabeça erguida, para demonstrar confiança, mas não muito erguida (o queixo longe do pescoço), o que pode representar arrogância. Ou seja, a distância entre o queixo e o pescoço deve ser de uns quatro dedos. Mais do que isso é arrogância.
Sorriso - sorrir é aconselhável, demonstra expressão positiva e descontraída, mas não fique dando gargalhadas, pode parecer um verdadeiro idiota. Não comprima os lábios, sinal de tensão; sorria com os lábios abertos, mas, antes, procure um dentista para fazer uma vistoria nos seus dentes.
Postura - não se sente na ponta da cadeira, dá a impressão que quer fugir, ou pode escorregar e cair no chão. Utilize o assento todo, mas não vá cometer a descortesia de limpar a cadeira antes de se sentar.
A postura corporal deve ser ereta, mas não em demasia, pode transmitir tensão. Em outras palavras, não fique corcunda nem estufe o peito.
Inclinação - não se incline ou “deite” na cadeira, dá sinal de indiferença. Em certos momentos, projete-se para frente, a fingir interesse na conversa do entrevistador.
Gestos - evite gestos repetitivos, tipo levar as mãos à boca, esfregar as mãos e coçar partes do corpo (certas partes do corpo são estritamente proibidas de serem coçadas durante a entrevista). Esses gestos indicam angústia e, em alguns casos, falta de higiene.
Cotovelos - não se debruce na mesa e aponte os cotovelos na direção do entrevistador. E nada de colocar os cotovelos na mesa e apoiar a cabeça com as mãos. Expressa hostilidade.
Braços - gesticular facilita o encadeamento das ideias, mas não abra muito os braços, isso desvia a atenção do entrevistador. Assim como bebida, use os braços moderadamente.
Mãos - apóie as mãos na mesa com as palmas para cima. Isso é sinal de receptividade. Todavia, já tentei ficar com as palmas das mãos para cima e confesso que é muito difícil. As mãos normalmente se posicionam com as palmas para baixo. A solução seria amputar as mãos ou não apoiá-las na mesa.
Pernas - pernas e braços cruzados representam resistência. Homens têm mania de se sentar com as pernas arreganhadas; as mulheres são mais recatadas. Fiquem com as pernas juntas, mas não cruzadas. Horrível esse costume de ficar com os braços cruzados. Advogado gosta de ser fotografado com os braços cruzados, não sei o motivo.
Pés - ponha os pés no chão e com as pontas direcionadas ao entrevistador. Não descanse os pés na mesa dele, em hipótese alguma.
Cumprimento - o aperto de mãos deve ser firme, mas não a ponto de esmagar a mão do entrevistador. Nada de cumprimentar somente com as pontas dos dedos.

Bem, se você não conseguir seguir as dicas acima, recomendo mandar um advogado para representá-lo na entrevista. Ou, então, o seu padrinho político, acho essa hipótese mais acertada.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Entrevista a respeito das cotas universitárias

Abaixo, a entrevista com o gestor de cotas universitárias, Senhor Caramuru Bolt Goldstein:
- O senhor pode explicar como vão ficar as cotas de ingresso nas universidades?
- De início, 50% das vagas serão destinadas aos alunos que cursaram todo o ensino médio nas escolas públicas.
- Mas, considerando que a qualidade de ensino atual nas escolas públicas é um tanto deficiente, esses candidatos conseguirão ser aprovados no processo de seleção?
- Esses alunos serão dispensados de participar do processo de seleção. A entrada será automática, atendendo alguns critérios de prioridades.
- E se o aluno não tiver a mínima condição de acompanhar o nível das aulas?
- Prevendo tais situações, as universidades terão cursos internos de alfabetização e de rudimentos de aritmética. A partir do momento que o aluno conseguir escrever o seu nome e saber somar e diminuir, já poderá frequentar as aulas normais da universidade.
- O senhor falou em critérios de prioridades. Quais são?
- Em primeiro lugar, terão prioridade os alunos com renda familiar igual ou menor a 1,5 salário mínimo, com preferência de alunos negros, pardos e índios.
- A renda familiar é fácil de entender, mas como será classificado o aluno em função da cor da sua pele: será por suas origens hereditárias ou simplesmente por uma análise da cor de sua pele?
- Seria difícil classificar o aluno em razão de suas origens hereditárias. Por isso, optamos pela cor da pele.
- Sendo assim, qual será o conceito adotado para classificar um aluno como pardo?
- Bem, pardo é aquele que não é branco nem negro. É mestiço, podendo ser, por exemplo, um mulato.
- Mas, em razão da cor da pele, o que vem a ser uma pessoa de cor parda?
- Ora, é fácil distinguir o pardo, ele tem uma cor... assim... meio marrom... cor de azeitona.
- Então, por exemplo, uma pessoa de cor parda, mas de olhos azuis e cabelo louro, será classificada ou não?
- Nós não vamos classificar as pessoas em razão da cor dos olhos nem do cabelo. O que importa é a cor da pele.
- Entendo. Neste caso, uma pessoa que nasceu branca e depois teve a pele tostada pelo sol e ficou bronzeada, será considerado branco ou pardo?
- Difícil responder de forma genérica. Muitos casos terão de ser avaliados por uma comissão a ser instituída.
- Será uma espécie de Comissão Definidora da Cor da Pele?
- Algo assim.
- Voltando à questão dos conhecimentos, o senhor não acha que a carência do ensino público prejudicará o nível do ensino superior?
- Isso não tem grande importância.
- Não tem importância?
- Claro que não! Os melhores empregos exigem mestrados ou doutorados e, provavelmente, os futuros concursos públicos também exigirão formação de extensão universitária. Deste modo, o nível não vai cair.
- Quer dizer que o fato de ter cursado o nível superior nada irá representar no futuro profissional do aluno?
- Eu não disse isso! Estou dizendo que os melhores empregos serão reservados aos que possuírem mestrado ou doutorado.
- E os cursos de mestrado e doutorado serão mais rigorosos?
- Bem, o governo já estuda abrir cotas para cursos de mestrado... quem sabe...

ATENÇÃO: Essa entrevista é pura ficção! Não acreditem em nada do que foi escrito!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Notícia em jornal futurista II

Suprema Corte absolve réus do Semanão

A Suprema Corte absolveu ontem os 4.570 acusados de participarem do chamado escândalo do Semanão, após julgamento que durou oitenta dias de acirrados debates entre advogados de defesa e o Procurador-Geral da República. O Supremo Tribunal Federal acatou a tese de ausência de substância, nada encontrando de provas materiais nos trezentos arquivos digitais de acusação encaminhados à Corte.

Os únicos considerados culpados tiveram suas penas prescritas: Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, o fundador do Banco do Brasil, já falecido; Dom José Caetano da Silva Coutinho, primeiro presidente da Assembleia Legislativa do Brasil no Império, já falecido; e Tonico do Brejo, servente de uma empresa de publicidade, foragido ou desaparecido há mais de dois anos. Este último teve a sua pena prescrita por não possuir, ou ninguém saber o número do seu CPF.

Os advogados de defesa tiveram cinco minutos para defender oralmente os seus clientes. O laureado advogado Enrique Caruso interpretou Uma Furtiva Lágrima, de Donizetti, recebendo calorosos aplausos da plateia emocionada. Já o advogado José de Vasconcellos provocou gargalhadas dos presentes ao contar duas piadas de português. Muito aplaudido o advogado Nijinski por sua performance ao dançar os primeiros acordes de O Bolero, de Ravel, acompanhado pela Orquestra Sinfônica da Petrobrás e o coral Canarinhos de Petrópolis. 

Em seu voto, a Ministra Relatora, Kumiko Mei Maylin, afirmou que “todos os réus se locupletaram à custa do dinheiro público, mas tudo dentro da lei”. O Ministro decano do Supremo Tribunal Federal, Jing-Quo Yong, teceu longas considerações em seu voto sobre a diferença entre os conceitos de Moral e Legal, citando os filósofos Kant, Bobbio, Kelsen e Lula da Silva. O único voto contrário à absolvição foi do Ministro Esquiva Falcão.

Depois do julgamento, os advogados de defesa informaram à imprensa que todos os acusados absolvidos ingressarão com ações de danos morais e materiais contra a União, estimando-se algo em torno de 2 bilhões de Yuan. O governo federal já pensa em aumentar os impostos para poder arcar com o pagamento das indenizações.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Eleições para Prefeito II

Aqui na minha comunidade temos dois candidatos à vereança, Chinelinho e Índio da Verdura, mas candidatos alienígenas costumam invadir a nossa praia na tentativa de angariar votos. Domingo passado ocorreu uma dessas invasões.

Vem um candidato a Prefeito na frente e uma multidão de candidatos a vereador atrás, alardeados por um foguetório irritante, a incomodar os comunitários. Desconhecem que os nossos domingos são dedicados ao sossego depois de uma semana toda de barulho atroz, proveniente dos vendedores de gás e vendedores de panelas, redes, salgados e afins, além do caminhão de lixo, galo cantando, cachorro latindo, gato miando, uma zoeira danada. 

Parte da população local gosta de deitar-se na praia e ali tirar uma soneca reparadora. Outra parte gosta de ficar em casa, assando coração e asa de galinha na churrasqueira de tijolos e beber uma cerveja geladinha. Este é o nosso domingo. E vem essa turma a tumultuar o sossego público.

Os mais curiosos vão até o calçadão da praia para ver o que está acontecendo. O candidato a Prefeito vem na frente cumprimentando a gente e nós, por educação, estendemos a mão. Depois que o candidato se afasta, Seu Broa pergunta: “Quem é este cara?”. Seu Broa, de idade ignorada, talvez uns setenta, é empresário na área de reciclagem, é ele o catador de latinhas aqui na comunidade. Nós sempre deixamos as latinhas em sacos separados dos demais, para facilitar o seu trabalho e para evitar que ele fique remexendo a intimidade dos nossos lixos. “Ele é candidato a Prefeito”, responde Capitão, cabo reformado da PM, que tem o costume de matar pombos com a sua espingarda de ar comprimido. Capitão detesta pombos, diz que traz doença. Seu Broa faz um muxoxo: “Meu candidato é o Chinelinho”. E o assunto passou a girar em torno da política.

O Seu Broa me faz uma pergunta: “O senhor, que é doutor, acha justo eu não pagar o pitiú?”. Entendi que ele se referia ao IPTU. “Por que o senhor não paga?”, perguntei. “A Prefeitura não me manda a conta”, respondeu. Capitão entra na conversa: “O senhor não paga porque é velho, velho não paga pitiú”. Seu Broa reagiu: “Ah é? O doutor aqui, que é tão velho quanto eu, paga pitiú?”. “Eu pago”, respondi. “Tá vendo? É perseguição política que a Prefeitura faz comigo”, disse irritado Seu Broa. Dona Zica, que frita peixe num quiosque, participa da conversa: “Eu pago pitiú todo ano, em prestação, pago lá na loteria, tudo certinho”. “Por que o senhor acha que é perseguição política?”, pergunta Capitão ao Seu Broa. “Porque eu não deixo as latinhas pro lixeiro vender, tá entendendo? Eu pego tudo e a Prefeitura fica na mão, olha o prejuízo que eu dou a ela”.  “Mas não é bom para o senhor não pagar o IPTU? É menos uma despesa!”, digo eu. “Ah é? E como vou provar que a casa é minha se não pago o pitiú?”. Dona Zica interfere: “Se alguém falar que a minha casa não é minha eu esfrego o papel do pitiú na cara de quem falou, eu guardo tudo”. “A senhora está certa”, disse Seu Broa. E continuou: “Já falei com o Chinelinho e ele prometeu botar o meu nome lá, para pagar pitiú, só quero ver”.

Chinelinho já começa a fazer suas promessas de campanha.

sábado, 4 de agosto de 2012

Eleições para Prefeito

Saiu o primeiro resultado de pesquisa na minha cidade, e o meu candidato está em último lugar com 1% de intenções de voto. Foram pesquisados 100 eleitores, a significar que o meu candidato já tem 1 voto. Como não fui pesquisado, já são dois votos. Se o candidato votar nele próprio, já serão três votos. As possibilidades aumentam...

Gosto de votar em quem não tem chances de vencer, isso me alivia e não serei amanhã acusado de coadjuvante das mazelas praticadas pelo candidato eleito, se nele não votei. Até hoje minha mulher me acusa de ter votado no Collor, transferindo todos os problemas ocorridos aos meus humildes ombros, grande e único responsável pela vitória do rapaz. Ironia maior é que eu não votei no Collor, não sei o motivo de tal invenção, votei no Gilberto Freire... Não!! O nome dele era Roberto Freire, se eu não estiver enganado.

Em resposta, replico maldosamente que ela votou no Maluf. Minha mulher dá um sorriso de desdém e responde: “Ora, o Maluf não ganhou...”. Perceberam a malícia da história? Se o seu candidato não vencer, fique tranquilo, você nunca será acusado de conivente em nada.

Não estou dizendo com isso a favor do voto debochado, votar em cacareco, macaco Tião e outros tipos mais curiosos e extravagantes que surgem por aí. Estou dizendo que o melhor voto é o inconsciente, votar no melhor segundo a sua inconsciência. Votar conscientemente tem sempre uma conotação de interesse próprio, de alguma vantagem pessoal a obter com a eleição dele.

Cabe uma explicação. Quando o voto é consciente a intenção é conseguir algo em troca: “minha rua vai ser asfaltada”; “esse cara é meu amigo”; “vou ganhar bolsa família”; “vou conseguir um emprego para o meu filho”; “vai diminuir o meu IPTU”; “vou ter passagem grátis”. Consciência é a nossa defesa, a defender os nossos interesses particulares, e não o bem-estar geral.

Para fingir conhecimento intelectual: voto consciente é uti singuli; voto inconsciente é uti universi. Nada melhor que o latim para explicar conceitos.

O voto inconsciente é o melhor. Escolho o candidato por suas aptidões e virtudes, e pronto! É nele que vou votar e está decidido! Foi assim que, naquela época, votei em Gilberto Freire... Não! Roberto Freire... Ou era Ricardo Freire...

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Eleições para Vereador II

Ontem não tive maior espaço para explicar a plataforma de governo dos dois candidatos a vereador aqui da comunidade, Chinelinho e Índio da Verdura. Não que me interessa promessas de políticos, mas importante conhecer as diretrizes filosóficas dos nossos candidatos, se socialista ou liberalista, ou nem uma coisa nem outra, quem sabe uma nova ideologia possa surgir na cabeça desses insignes candidatos à vereança. Afinal, ainda acredito no surgimento de um novo e revolucionário pensamento político depois da derrocada do comunismo burocrático e do capitalismo canibal. E tudo começa na vereança, geralmente o marco inicial da carreira política.

Chinelinho é mais rico de ideias, talvez por sua atividade profissional de biscateiro, pau pra toda obra, como dizem aqui os comunitários. Uma de suas promessas de campanha é o (desculpe a expressão) “Guarda-Merda”. Seria um triciclo com um tambor na traseira a ser utilizado como depósito da gordura recolhida das caixas, trabalho executado pela Prefeitura. Muito interessante a ideia, pois um dos problemas na limpeza das caixas de gordura é justamente saber onde despejar o material retirado. Comentei ao Chinelinho que as senhoras ficariam constrangidas em solicitar os serviços do Guarda-Merda, por causa do nome, expressão chula e desagradável. Ele me respondeu que a comunidade adotará a sigla, GM, e ninguém vai se lembrar que GM significa Guarda-Merda.

Ao perguntar sobre o custo do serviço, Chinelinho explicou que a Prefeitura cobrará uma taxa, cuja denominação jurídica será “Taxa de Armazenamento da Merda Domiciliar” – TAMD, e o valor seria calculado por quantidade de litros de merda recolhidos. Vocês pensam que Chinelinho é bobo? Nem um pouco.

Índio da Verdura vive em torno de sua profissão, comercialização de legumes, verduras e hortaliças. Por isso, sua plataforma política está assentada na produção e consumo de tais produtos. Quando soube do projeto GM do concorrente Chinelinho, propôs uma coalizão política pela qual sairia um projeto de lei conjunta, estabelecendo que os materiais armazenados no Guarda-Merda fossem usados nas hortas comunitárias como adubo natural. “O doutor já se imaginou comendo uma verdura que cresceu viçosa da própria merda que o senhor mesmo evacuou?”, perguntou o candidato naturalista-ecologista. Fiquei imaginando...

Perguntei se as hortas comunitárias não prejudicariam o seu negócio de vender verduras. Disse que não, explicou que ao ser eleito deixaria de vender verduras, galgaria novas posições, um atravessador, quem sabe, sempre gostou da palavra atravessador, embora não saiba o seu significado. Faria a administração das hortas comunitárias, controlaria a produção, teria caminhões para transportá-la, empregados e assessores, instalaria sacolões, teria contador, faria registro no super-simples, já ouvira a respeito, sonegaria impostos, o seu celular, quando tivesse, seria grampeado... E segurando a bicicleta das verduras com as mãos trêmulas e olhando para o céu com aqueles olhos enviesados, ele disse: “Eu tenho um sonho...”. Cheguei a me arrepiar, parecia Martin Luther King.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Eleições para Vereador

Estou na dúvida em quem votar para vereador: se voto no Chinelinho ou no Índio da verdura, os dois candidatos aqui da comunidade (você sabe que agora não se fala mais em bairro, fala-se comunidade). Os dois são bons.

Chinelinho é mais versátil, é um “faz-tudo”; poda as árvores, limpa caixa de gordura, pinta parede, conserta liquidificador, qualquer problema o Chinelinho resolve. Bem, resolve mais ou menos, minha mulher já reclamou, em matéria de pintura não chama mais o Chinelinho, faz uma borração danada.

O Índio da verdura é mais discreto. Vende suas verduras de porta em porta, com sua enorme bicicleta, e sempre tem uma notícia sobre os acontecimentos na comunidade. Alguém morreu, alguém enganou o marido, ou vice-versa, houve troca do carteiro, o caminhão do gás quebrou, vai faltar luz (não sei como ele sabe, mas sempre acerta, deve ter alguma ligação com o pessoal da luz). Ao contrário do Chinelinho, Índio não sabe o nome de ninguém, mas, delicadamente, chama todo mundo de doutor e as mulheres de madame.

Segundo minhas análises, Chinelinho tem mais potencial. Fala pelos cotovelos, até lá em cima da árvore não para de falar, isso deve ser bom para vereador. E dá os seus palpites, tem opinião própria sobre qualquer assunto. O Índio, não, apenas dá notícias, por isso eu o considero mais discreto, grandes possibilidades de ser líder do partido.

Já perguntei aos dois se eles gostam de ler jornal. Como vocês sabem, vereador que se preza tem que ler jornal durante as sessões da Câmara. Chinelinho respondeu que não gosta de ler jornal, tem dificuldades com as letrinhas da imprensa. Acha que é problema na vista. Índio da verdura respondeu que não gosta de ler jornal por que dá dor de cabeça. Deve ser problema de vista também. Deste modo, os dois terão que ficar falando no celular durante as sessões, não tem outro jeito.

Indaguei sobre os projetos de campanha. Chinelinho tem várias ideias: promover um forró todo fim de semana aqui na praia; criar o Dia do Podador de Árvore (a data será do seu aniversário, nada mais justo); criar uma lei obrigando que os tijolos já venham pintados ou, pelo menos, emboçados. Achei esta fantástica. Índio da verdura propõe criar a Bolsa da Verdura, subsidiada pela Prefeitura, uma proposta que envolve o social e a saúde, muito boa.

Estou assim nesta dúvida. Acho que serei salomônico, voto em um e minha mulher vota em outro. E o problema está resolvido.