domingo, 2 de setembro de 2012

Conversa de Fiscais III

“Agatha Christie” ataca outra vez.


- Bom dia!
- Bom dia não! Boa noite! Isso é hora de chegar? Se aqui tivesse relógio de ponto você estaria ferrado!
- E você sabe que andaram falando em instalar relógio de ponto para Fiscais? Olha que absurdo! Nós teríamos que vir até aqui todas as manhãs bater o ponto, e depois sair para fiscalizar. E no fim do expediente a mesma coisa!
- Concordo que é um absurdo, uma perda de tempo. Fiscal tem que ser avaliado por produção e não por horário. Mas nos dias de plantão temos que chegar no horário, você não concorda, seu dorminhoco!
- Eu não estava dormindo! Fui fazer uma averiguação...
- O quê? Então você está dando uma de Poirot?
- Já é a segunda vez que você fala neste tal de Porrô. Não sei quem é esse Fiscal.
- Não é Fiscal, cara! É o detetive Hercule Poirot, personagem da Agatha Christie...
- Ah, aquela gata inglesa... Mas deixa te contar, você se lembra daquela firma que veio aqui para pegar autorização de nota fiscal? Disse que não conseguia entrar pela Internet...
- Lembro e não vi novidade nenhuma; este sistema de nota fiscal eletrônica vive dando pau, saindo do ar, uma loucura...
- Pois é, contratam um sistema, pagam um dinheirão e a coisa não funciona...
- E nem nos consultam! E ainda querem que a nossa legislação se adapte ao sistema, quando o sistema deveria se adaptar à legislação! Daqui a pouco o legislador municipal passará a ser as empresas de informática!
- Não falta muito pra isso! Mas deixe eu te contar: achei estranho o endereço daquela firma, porque é no bairro onde moro e nunca soube de firma de gráfica naquela rua.
- E você foi até lá dar uma espiada?
- Exatamente! E sabe o que encontrei no endereço?
- Uma residência particular.
- Nem isso! Encontrei um terreno baldio!
- Terreno vazio? Sem nada?
- Sem nada, nem muro, completamente abandonado!
- Que estranho... Gráfica tem máquinas, tem empregados...
- Pois é. E você viu o faturamento dela?
- Eu não vi nada, quem atendeu foi você.
- Eu vi! Receita de empresa grande! Nem é do Simples! Olhei as notas fiscais anteriores e só tem clientes poderosos, quase todos lá da Capital!
- Mas o ISS é nosso! Está pagando?
- Tudo direitinho...
- Então, onde será que ela faz o serviço... Me diz uma coisa, você sabe qual é a alíquota de gráfica na Capital?
- Lá eles não perdoam, é tudo 5%.
- E aqui gráfica paga 2%... Acho que este é o motivo...
- Você está dizendo que esta sede da empresa é de mentirinha?
- É lógico! Ela deve ter uma oficina escondida lá na Capital.
- E finge que a sede é aqui para pagar 2%...
- Está na cara, não é?
- É... Pode ser isso... E o que devemos fazer?
- Olha, de certa forma o nosso Município está ganhando, mas não gosto de compartilhar de falsidades, e isso é uma imoralidade!
- Por que imoralidade? Isso não seria aquele negócio de elisão?
- Elisão? Fingir que tem sede num terreno baldio? Isso é pouca vergonha, isso sim!
- Na verdade eu nunca entendi esse negócio de elisão.
- Elisão é quando se aproveita da lei para pagar menos tributo. E está na cara que a nossa lei não permite uma gráfica fantasma, localizada num terreno baldio!
- E eu fico pensando como conseguiram o alvará...
- Xiii! Ainda deram alvará? Então, não houve vistoria, não houve nada!
- Pois é, tem gente aqui da casa envolvida neste trololó. Você não acha melhor a gente ficar quieta e deixar pra lá?
- Claro que não!! A dupla Tommy e Tuppence Beresford vai entrar em ação! Vamos pedir ao chefe uma ordem para fiscalizar essa empresa e jogar a sujeira no ventilador, doa a quem doer!
- Meu Deus! Lá vamos nós criar confusão novamente...
- Fiscal não cria confusão, Fiscal apura os fatos! É pra isso que somos pagos!!
- É, aquele dinheirinho mixuruca que entra todo mês... Bem, pelo menos eu vou ser este tal de Tommy... Gosto mais deste do que aquele outro, Porrô! Você inventa cada nome!!

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