quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Liberação de Alvará sem laudo do Corpo de Bombeiros

Aqui na minha cidade de Niterói, a Prefeitura (finalmente!) aprovou regulamento pelo qual a liberação do Alvará de Funcionamento independerá da apresentação do laudo do Corpo de Bombeiros, exceto quando se tratar de estabelecimento com atividade de risco, tipo Posto de Gasolina, Distribuidora de Gás, Restaurante, Supermercado, Boates, etc.

Assim, um escritório de contabilidade, um consultório médico de simples atendimento, uma pequena loja de confecção e milhares de outros pequenos estabelecimentos não sofrerão mais aquela via-crúcis, que Deus me perdoe a comparação, para conseguir o bendito laudo do Corpo de Bombeiros. Verdade seja dita, em algumas (e poucas) cidades o referido laudo até que sai com rapidez razoável, mas, na maioria, o prazo de liberação vai de 60 a 180 dias. E imagine o empreendedor, que gastou tanto para montar o seu estabelecimento, ter que ficar tanto tempo para abrir as suas portas e poder faturar.  Cheio de compromissos, acaba abrindo as portas sem o alvará e correndo o risco de ser autuado e ter o seu estabelecimento interditado.

Enquanto alguns Municípios continuam com exigências consideradas absurdas (e até mesmo ridículas), outros caminham no sentido contrário, com vistas a facilitar ao máximo o início de novas atividades econômicas e gerar, por conseguinte, maior riqueza local. Têm Municípios que permitem até a liberação de Alvará Provisório via Internet, podendo o contribuinte entregar fisicamente os documentos num prazo de 30 dias. Em tais casos, é lógico, excluem-se as atividades de alto risco.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Partidos dos Prefeitos Eleitos em 2012


Partidos
Número de Municípios
Percentual
PMDB
1.032
18,53%
PSDB
   702
12,61%
PT
   636
11,42%
PSD
   497
  8,93%
PP
   467
  8,39%
PSB
   444
  7,97%
PDT
   311
  5,59%
PTB
   294
  5,28%
DEM
   278
  4,99%
PR
   273
  4,90%
PPS
   121
  2,17%
PV
    96
  1,72%
PSC
    83
  1,49%
PRB
    77
  1,38%
PC do B
    56
  1,01%
PMN
    42
   0,75%
PT do B
    26
   0,47%
PRP
    24
   0,43%
PSL
    23
   0,41%
PTC
    19
   0,34%
PHS
    16
   0,29%
PRTB
    16
   0,29%
PPL
    12
   0,22%
PTN
    11
   0,20%
PSDC
      8
   0,14%
PSOL
      2
   0,04%
TOTAL
5.568
    100%

Fonte: TSE – Os Municípios de Cedro (CE) e Bom Jesus de Goiás (GO) estão com os seus resultados pendentes de decisão judicial e não constam na relação acima.

Conclusão:
Analisando o quadro acima, chega-se à conclusão... Nenhuma! Ou melhor, com todo respeito à democracia, é muito partido político, não é não?
Observação à parte: para Prefeito, a maioria da população vota na pessoa e não no partido político.

sábado, 27 de outubro de 2012

O resultado das eleições na comunidade

Os dois candidatos a Vereador aqui da comunidade não foram eleitos. Chinelinho recebeu 53 votos e Índio das Verduras teve apenas 2 votos, dos quais, um dele próprio e o outro, ah, um verdadeiro mistério, motivo de grandes especulações em toda a comunidade.

Disse Índio das Verduras que mais de cem pessoas garantem ter votado nele, cada um a afirmar que aquele segundo voto foi o seu, a gerar certo desconforto na população local, diante das contradições entre as pesquisas pós boca de urna e o número de votos obtido. A mulher do Índio não votou porque ficou o dia todo na cozinha, fazendo almoço para os eleitores, a cumprir o programa de compra de votos instituído pelo marido. “O seu voto por um almoço” foi o slogan do seu programa de compra de votos, sendo servidas mais de cem refeições gratuitas, segundo estatística da sua mulher.

“Fui roubado”, desabafou Índio das Verduras. “Aquela maquininha trocou o meu número para o de outros candidatos, e a prova está aqui! Todos que almoçaram de graça votaram em mim e os votos não apareceram”. Diante de tantos testemunhos, acredita-se piamente que o candidato foi realmente roubado pela maldita urna eletrônica. Fortes indícios de conspiração, sem dúvida.

Chinelinho discorda. Sua opinião é de que o povo mente com a maior cara de pau. “Meu programa de compra de votos foi trabalhar um mês de graça. Nunca limpei tanta caixa de gordura na minha vida, foram mais de duzentas. E tive só 53 votos”. A revolta de Chinelinho se concentra na população: “uma turma de invejosos! Não me querem ver sair da merda!”. Literalmente.

De qualquer modo, especula-se de quem foi o outro voto do Índio das Verduras, se tantos afirmam ter nele votado. E todos, veladamente, abençoam este segundo eleitor, pois, se não fosse ele, não haveria nem este resquício de dúvida pairando no ar. Eu, particularmente, estou fora de qualquer suspeita, uma das vantagens de ser velho é a de não votar. E a minha mulher, todo mundo sabe, sempre anula o seu voto, ninguém o merece, segundo ela. Mas, justiça seja feita, não pediu limpeza de graça da caixa de gordura e nem almoçou na casa do Índio das Verduras. Ela é incorruptível.

Os dois candidatos já se preparam para as próximas eleições, mas reconhecem, reservadamente, que os seus programas de compra de voto foram um fracasso. Precisam criar um método mais inteligente, mais sofisticado.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A imparcialidade da imprensa na campanha eleitoral

Notícia em jornal:
TRACONILDO É APLAUDIDO NAS RUAS
Traconildo, candidato a Prefeito em nossa cidade, foi aplaudido nas ruas durante sua passeata realizada ontem, sendo, muitas vezes, obrigado a interromper sua caminhada para receber os abraços eufóricos da população. O povo gritava: Traconildo! O coração do povo! Acompanhado por todos que o apóiam entre os quais o Governador, três senadores, oito deputados federais e vinte pastores e padres de diversas Igrejas do Município, Traconildo prometeu um governo voltado para o povo e pelo povo. As pesquisas já garantem sua tranquila vitória nas eleições.
O outro candidato, o prefeitável Flauzino, passou o dia de ontem panfletando pela cidade, distribuindo santinhos e sujando as ruas. Os garis foram acionados para varrer a sujeira que o candidato provocou.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O ISS de Obra

Em “Conversa de Fiscais”

- Que processo é este que você está vendo?
- Veio do Urbanismo, para calcular o ISS de uma obra...
- Obra acabada?
- Acabada. O titular está requerendo o habite-se.
- Me deixa ver... Construção de uma casa... Qual foi a empreiteira que construiu?
- Não tem empreiteira, o dono do terreno construiu com o seu pessoal.
- Como assim?
- Ele contratou o pessoal... Está tudo aqui... Olha a relação: um mestre de obras, dois pedreiros, um carpinteiro, um eletricista, um pintor, três serventes...
- Ele assinou a carteira de trabalho da turma?
- Não. Ele só contratou de boca.
- O que é comum... Esse pessoal está inscrito como autônomo?
- Não. Por isso, ele recolheu o ISS do pessoal todo mês durante a obra. Olha aqui... Ele anexou os comprovantes...
- E o Engenheiro responsável?
- Está aqui o nome dele... Está inscrito como autônomo...
- Teve alguma subempreitada?
- Acho que não... Ele juntou as notas de materiais... Cimento, pedra, vidro, mármore, piso, telha, parece que está tudo aqui... O homem é organizado.
- Então devolve o processo! O sujeito está querendo o habite-se!
- Mas, eu não tenho que fazer o cálculo do custo da obra?
- Pra quê?
- Ora, para calcular o ISS da obra!
- ISS da obra? Que ISS é esse?
- Ih mulher! Admiro a sua pergunta! O ISS da obra, uai!
- Cara! Obra não tem ISS! Quem paga ISS é o prestador do serviço, o empreiteiro, o administrador da obra, o subempreiteiro... Você me disse que o próprio dono administrou a obra, que a mão-de-obra pagou o ISS, que não houve subempreitada... O que você quer mais? Você acha que o dono da obra prestou serviço pra ele mesmo?
- Você está me confundindo! Sempre calculei o ISS da obra... Pelo custo da obra!
- Você estima o custo da obra só pra ver se o pessoal contratado e declarado é razoável em razão do tamanho da construção. Você pode até usar a tabela do SINDUSCON, que separa o custo da mão-de-obra e dos materiais aplicados.
- Não é então para calcular o ISS total da obra?
- Seria uma estimativa se houvesse empreitada e o empreiteiro não tivesse pagado nada! Ou quando o recolhimento foi muito baixo! Aí sim! Este cálculo serviria para arbitrar o valor do imposto.
- Mas não houve empreitada...
- É isso que estou dizendo. O sujeito já pagou o ISS da mão-de-obra, não teve empreiteiro, não teve subempreiteiro. A construção foi de 160 m² e a mão-de-obra declarada foi bem razoável em relação à metragem, não foi?
- Bem, não entendo de obra, mas parece que foi...
- Tudo certo, então! Libera o processo!
- Então não cobro o ISS do habite-se?
- Pelo amor de Deus! Habite-se não é fato gerador do ISS!
- Huuum, não sei não... Então você despacha o processo...
- Me dá aqui seu covarde! Eu despacho! O sujeito trabalha direitinho, cumpre todas as regras e ainda vai ficar à mercê dessa burocracia idiota? Nós temos que pegar os grandes sonegadores, isso sim!!
- Ah, isso é difícil...
- Pois é! E aí ficamos azucrinando a vida das pessoas direitas! Lembre-se: Ao povo tudo! Aos sonegadores as penas da lei!!
- Puxa! Parece Joaquim Barbosa...  

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Avenida dos brasileiros

Estamos vivenciando uma enorme mudança social em nossa “avenida brasil”, por onde circula a atual sociedade brasileira, em sua concepção mais pura e afastada de estereótipos aos quais estávamos acostumados. A grande massa miscigenou-se, fundiu-se num só bloco subcultural e desintelectualizado, não importa qual seja sua classe econômica. Exclui-se, apenas, um número ínfimo de pessoas “escondidas” em grotões de convivências intimas ou cavernas de isolamento, seus pequenos espaços onde ainda procuram viver alienados ao tenebroso mundo que os cerca.

O Brasil atual é formado de uma casta única, cujo sentido de vida gira em torno de levar a vida e abocanhar o que puder dos demais, seja quem for. As vítimas do passado transformaram-se também em predadores, e estamos vivendo numa sociedade em que todos são predadores e presas ao mesmo tempo. Até mesmo nas relações familiares, cada um lutando para não ser a presa dos demais, todos disputando suas vítimas com os demais predadores. O velho refrão de que o homem é o lobo do homem generalizou-se por completo.

A tese comunista da luta de classes caiu por terra. A luta agora é do indivíduo, contra os seus iguais ou desiguais. Velho ditado que desaba sobre nós: cada um por si, e ninguém se importa se Deus estiver por todos. De forma respeitosa, Deus foi afastado da disputa, colocado em local inatingível e sua presença somente reclamada em situações de desespero.

A antiga “moral familiar” desintegrou-se, desapareceu. Os pais não podem mais incutir nos filhos os sentimentos da antiga moralidade, como aprenderam em suas épocas, porque tais sentimentos são caretas e avessos à realidade atual. Atitudes enérgicas de ensino foram radicalmente abolidas porque ferem os princípios atuais dos tais “direitos” das crianças. Um simples castigo de manter uma criança recolhida em casa é ridicularizado, desaprovado e abominado.

A conversa familiar, a antiga troca de palavras de pais e filhos não existe mais. As crianças, muito cedo, percebem que seus pais nada têm de útil e prático a lhes dar em lições de vida, e aprendem os ritos da sobrevivência nas ruas ou nos meios modernos de informação. Vão aos pais apenas para pedir bens materiais e os consideram obrigados a atendê-los, não importa o custo do atendimento. Os pais não sabem mais dizer não aos filhos. E, em muitos casos, não negam seus pedidos por temer retaliações e revoltas.

Nas famílias de maiores recursos, as crianças se isolam por detrás de seus “smartphones”, “tablets” e computadores, que se tornaram seus meios de comunicação e aprendizagem. E a maioria dos pais não se importa com esse isolamento, melhor assim do que incomodá-los com perguntas e reclamos.

A nivelação cultural foi alcançada por baixo. Escolas públicas ou particulares são todas iguais, e as raríssimas exceções estão acabando. O ensino amesquinhou-se, o bom professor se acomoda e não mais cuida do futuro dos alunos, pois precisa cuidar de si próprio para não ser devorado.   

A ética empresarial foi para o espaço. O fundamental é atrair clientes e espoliá-los de todas as formas possíveis. Tentar enganá-los na melhor forma do Direito, ou ludibriar as normas legais, o que não é difícil. A regra atual das empresas de “agregar valores” nada mais é do que sugar todo o sangue possível de suas vítimas incautas, como um vampiro faminto. Ao cair nessa armadilha, o mais difícil é desvencilhar-se de suas malhas, como um peixe das redes do arrastão. Atualmente, no Brasil, não há mais sentimento de vergonha de quem for apanhado furtando um cliente, e este ato não mais escandaliza ninguém. Ser furtado na conta de um restaurante, de um hotel, de um posto de gasolina, surgir “novos produtos” para pagar, sem tê-los pedido ou encomendado, receber mercadoria defeituosa, receber troco a menos, tudo hoje é muito natural e faz parte do cotidiano. Cada um que se defenda por si mesmo, cada um que espreite e ataque sua próxima vítima.
Esta é a avenida pela qual os brasileiros transitam para destino ignorado.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Notícias futuristas (mas nem tanto!)

Coluna social: Em cerimônia de requintes magníficos casaram-se ontem a canina Ágata Bessie e o canino Barney-Bart Cristovam III, das famílias adotantes Gates e Slim. A grandiosa festa foi no Grand Resort Lagonissi, em Atenas, capital da Grécia. O casal passará a lua de mel na suíte presidencial do Hotel, cuja diária é de 50 mil dólares. A Senhora Slim, muito comovida, disse a esta colunista: “O meu Barney-Bart merece tudo! Sempre foi um filho adorável”. A canina Ágata Bessie, famosa por sua beleza e por ter mordido a mão do Papa durante uma recepção no Vaticano, preparou-se para a festa no luxuoso Thala Spa Chenot, o spa do resort, onde recebeu tratamentos holísticos de embelezamento. A bela e irrequieta Ágata vestiu um modelo Versace-Pet, avaliado em U$10 milhões. Em razão da atual crise econômica, a polícia grega foi convocada para afastar as crianças famintas e cães vadios das cercanias do luxuoso hotel. Os nubentes não quiseram dar entrevista.

Política internacional: O Presidente Hugo Chávez viajou a Cuba para participar do aniversário de 150 anos de Fidel Castro, que não aparece em público há mais de meio século por estar enfermo. O encontro dos dois líderes foi reservado e ocorreu na enorme fortaleza do caudilho cubano, localizada ao lado do cemitério de Santa Ifigênia. O Presidente da Venezuela, de idade ignorada, aproveitou a viagem para negociar a importação de óleo de baleia para acender lamparinas nas residências da população venezuelana.

Futebol: A seleção brasileira já está escalada para o jogo amistoso contra a seleção de Tuvalu na Polinésia. O jogo será realizado em campo improvisado num atol de corais, forrado de areia e os coqueiros serão aproveitados para marcar as balizas dos gols. A equipe brasileira jogará com a seguinte escalação: Zhiyi, Haidong, Li Ming, Yang e Lu Peng; Han Chao, Gao Lin, Miao e Zhu Ting; Zizao e Neymar.

Esporte: Rubens Barrichello assinou contrato para disputar a corrida de pedalinho na Lagoa Rodrigo de Freitas.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Encontro de velhos

Um velho senhor estava sentado na pérgula de uma das piscinas de magnífico hotel de Dubai nos emirados árabes. Bebia um coquetel de frutas e passeava os olhos, tranquilamente, nas moças que se banhavam. Outro velho senhor passou ao seu lado, olhou-o de soslaio e estancou.
- Desculpe, mas você não é o Delério?
O outro levantou os olhos e disse surpreso:
- Minha nossa! Você não é o Valúbio?
O outro abriu os braços.
- Sou eu mesmo! Que coisa! A gente se encontrar aqui em Dubai!
Delério levantou-se a abraçou efusivamente Valúbio.
- Que coincidência! Há quantos anos eu não lhe vejo!
- Acho que já se vão uns trinta anos!
- E você continua em forma!
- Forma nada! Músculos em frangalhos... Veja os meus cabelos brancos...
- Pelo menos você tem cabelo...
Valúbio deu uma gargalhada.
- Você sempre foi careca, não pode reclamar!
Os dois estavam emocionados. Encontro de velhos sempre revolve a memória.
- Você está passeando ou fixou residência aqui?
- Estou passeando! Eu moro em Mônaco, um château no alto da montanha. Da minha casa, vejo o meu iate ancorado na baía.
- Por falar em iate, lembra daquele passeio que fizemos nas ilhas gregas?
- Claro que me lembro! O nome do comandante era Pitágoras!
- Mas você o chamava de Capitão Teorema!
Os dois deram risadas.
- Você tinha um segurança, um gigante...
- Ah, era o Trator... Morreu, coitado... Morreu cheio de saúde...
Caíram na gargalhada.
- E você, está morando aonde?
- Em Nova York... Eu tenho um triplex lá, de frente para o Central Park...
- Eu me lembro! Já passei uns dias lá, não foi?
- Não! Aquele eu vendi. Comprei outro, mais espaçoso...
- Mas aquele me dá boas recordações... Lembra daquelas russas que levamos pra lá?
- Claro! Aquela que ficou comigo, a tal de Karina, me deu um trabalho danado. Quase separação!
Os dois riam das boas recordações.
- Sabe, Valúbio, as mulheres sempre foram a minha perdição...
- A minha também... Lembra da Margot, lá de Brasília? Que mulherão!
- Eu juro que pensei que você ia largar tudo em troca daquela mulher.
- Por pouco, meu amigo, por pouco! Se não fosse aquela confusão...
- Que confusão?
- Aquele julgamento fajuto! Aquela besteira... Como chamavam?
- Não me recordo...
- Espera aí! Vou me lembrar... Ah! Chamavam de mensalão! Lembra?
- Não... Não me lembro...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Centro de Reabilitação dos Ladrões Anônimos

Cadeiras fazendo um círculo, visão aberta para todos os presentes, o moderador no meio.
- Meu nome é Janosico e eu sou ladrão!
E todos responderam:
- Olá Janosico, seja bem-vindo!

Dizer o seu nome e declarar-se ladrão é a forma clara e insofismável de reconhecer e aceitar sua conduta como um mal irrefutável. E o fato de estar ali presente é o testemunho material de que precisa de ajuda para libertar-se daquela obsessão de roubar.

Na sala, velhos ladrões, a maioria aposentada, libertada ou perdoada, mas ainda ladrões em seus sentimentos internos e profundos. Se tiverem novas oportunidades, certamente irão roubar novamente. Mas, a presença deles no Centro de Ladrões Anônimos já seria um sinal de tentativa de recuperação.

O novato Janosico, ainda titubeante, assume a palavra:
- Sou ladrão desde a época em que fui Vereador, já são mais de vinte anos... De início, as propinas vinham de origens desconhecidas. Envelopes fechados e deixados na minha sala na Câmara Municipal, sem identificar os remetentes. Lembro-me que na primeira vez em que recebi um desses envelopes fui perguntar ao Presidente da Câmara o que era aquilo... Santa ingenuidade... O Presidente deu um sorriso matreiro e bateu de leve nas minhas costas. “Aproveite”, foi o que ele disse. Os meus sentimentos iniciais eram confusos, de uma leve repulsa ao enfiar o dinheiro no bolso, não uma repulsa a ponto de denunciar no plenário ou mostrar os envelopes à imprensa, talvez não fosse repulsa, mas o constrangimento da vergonha. Minha consciência batia de leve, afinal nada me exigiram em troca. Na verdade, eu sempre votava de acordo com as indicações do partido, o que o líder mandava, eu obedecia. E hoje eu sei que era só isso que eles queriam de mim.

Um ladrão aposentado comentou:
- Seu raciocínio está correto, o mesmo aconteceu comigo. Continue!

Confortado pelo apoio, Janosico continuou:
- Da surpresa do recebimento dos envelopes passei a aguardá-los ansioso. Com o tempo, passei a conversar naturalmente sobre a propina com meus pares, e até a reclamar que os valores repassados deviam aumentar, pois alguém ficava com o quinhão maior, o que não era justo. Aos poucos, galguei posições de comando e administração da propina, participei de reuniões com os corruptores e alcancei status de entregador de envelopes, posto equiparado a chefe da quadrilha. Ao ser eleito Deputado, levei todo o meu know-how sobre técnicas da ladroagem, mas, para minha surpresa, os meus conhecimentos eram primários diante da estrutura encontrada. Nada de envelopes ou guardar dinheiro na cueca, os recursos circulavam no sistema financeiro, grandes empresas e contas em paraísos fiscais. Fui obrigado a me atualizar, estudar finanças e aprender inglês. As propinas passaram a ser chamadas de “funding” e o ato de concordar com a maracutaia era chamado de “agreement”. Um mundo novo surgiu diante de mim!

Os ladrões presentes sorriam e meneavam a cabeça em concordância. Um deles falou:
- E de repente, a bomba!!

Janosico esboçou um sorriso triste:
- Pois é... A bomba. E a verdadeira bomba explodiu somente agora, quando o Supremo veio a dizer que tudo aquilo que fazíamos era crime. Pois sempre acreditei que as minhas ações nada mais eram do que uma simples esperteza, de levar certa vantagem por força das minhas funções e o cargo ocupado. Quem enfrenta uma eleição sabe das dificuldades enfrentadas, e os vencedores têm direito a usufruir da conquista, como se fossem as pilhagens para as nações que ganham uma batalha ou uma guerra.

Um ladrão comentou:
- As nações saqueiam petróleo e nós o dinheiro, no fim é a mesma coisa.

E Janosico chorou. Suas lágrimas e soluços não permitiram que continuasse a contar a sua história. O moderador, então, resolveu encerrar a sessão, mas antes fez uma revista nos presentes, para descobrir quem furtara a sua carteira.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O IPTU – Informações Gerais

O Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana – IPTU é um imposto de competência municipal, ou seja, quem o lança e efetua a cobrança é a Prefeitura da cidade. Como sua denominação diz, alcança imóvel exclusivamente da chamada área urbana e, também, das áreas urbanizáveis, ou seja, aqueles imóveis que eram da área rural, mas que vem sendo transformada em área urbana, geralmente em vista de loteamentos de antigas glebas rurais, e que passam a exigir a instalação de equipamentos urbanos (iluminação pública, arruamento, canalização de água e esgoto etc.). Também são tributáveis pelo IPTU os chamados sítios de lazer, independentemente de sua localização, exceto aqueles que produzem e vendem alguma coisa, como coco ou ovos de codornas.

Os imóveis situados na área urbana, mas que se destinam à produção e exploração de produtos agrícolas ou de criação, não pagam IPTU e, sim, o Imposto Territorial Rural – ITR. Assim, se alguém tem um terreno baldio no centro da cidade, e resolve plantar e comercializar abobrinhas, basta inscrever-se como produtor rural no INCRA que estará livre do IPTU, conforme anda decidindo a Justiça. Deste modo, não é só a localização, mas também a destinação do imóvel, que faz permitir a cobrança do IPTU.

Contribuinte do IPTU não é só o proprietário do imóvel. Também o é o possuidor (aquele que detém o imóvel como se fosse seu dono, mas sem escritura em seu nome); o enfiteuta (aquele que possui o imóvel como direito útil de uso, sem ser, porém, o seu verdadeiro proprietário); e o superficiário (aquele que tem contrato de superfície com o proprietário, podendo gozar, fruir e alterar as características da propriedade). Inquilino não é contribuinte do IPTU, todavia é possível o locador transferir a responsabilidade do seu pagamento ao locatário, se previsto no contrato de locação. Contudo, aos olhos da Prefeitura, não importa quem efetuou o pagamento, pois o lançamento será sempre contra o nome do proprietário. Em outras palavras, se o locatário não pagar, embora obrigado nos termos do contrato de locação, a cobrança será em cima do proprietário. Ele que corra atrás do prejuízo e faça cobrança amigável ou judicial contra o locatário.

Bom lembrar que os lançamentos do IPTU são direcionados contra aqueles nomes que estão no Cadastro Imobiliário da Prefeitura. Muitas vezes, o antigo proprietário já vendeu o imóvel, mas ninguém tomou o cuidado de pedir na Prefeitura a alteração do nome do contribuinte. Em geral, cabe ao adquirente levar a escritura registrada e pedir que o imóvel passe para o seu nome, porém, muitos não fazem isso e continuarão recebendo o carnê de pagamento em nome do ex-proprietário. Problema ainda mais sério ocorre nos casos de posse, quando a Prefeitura não tem a mínima ideia de quem é o possuidor do imóvel. Mesmo que a pessoa vá à Prefeitura e tente provar que é o possuidor legítimo (mediante apresentação de documentos particulares e testemunhos de vizinhos), a maioria dos servidores municipais torce o nariz e só faz a mudança mediante a apresentação da escritura registrada no Ofício de Imóveis, o que é impossível de ser apresentado, obviamente, na maioria dos casos de posse. Aliás, promitente comprador já na posse do imóvel, desde que o contrato de promessa esteja averbado no Registro de Imóveis, pode também ser cadastrado como contribuinte.

O IPTU é calculado de acordo com o valor de mercado do imóvel em condições normais de compra e venda. Os técnicos e juristas chamam esse cálculo de “valor venal”. Venal, no caso, significa “importância pela qual alguma coisa pode ser vendida”. Para fazer esse cálculo, os técnicos da Prefeitura são obrigados a criar uma série de parâmetros, levando em conta:

- o preço de mercado do terreno vazio, além de verificar características próprias de cada terreno (se localizado numa esquina, num local encravado, num local em declive ou em aclive, local inundável e outras situações específicas);

- o tipo de construção existente no terreno (o tamanho da edificação, a qualidade dos materiais utilizados, o tempo de existência da construção etc.).

Como a valorização imobiliária de uma cidade não é uniforme, os técnicos são obrigados a identificar os imóveis por região, bairro ou até mesmo por rua, podendo, inclusive, uma mesma rua ter valorizações diferentes, dependendo da localização do imóvel.

A esse conjunto de normas e cálculos dá-se o nome de “Plantas (ou Mapas) Genéricas de Valores”. Portanto, Planta Genérica de Valores é o complexo de mapas, tabelas, listas, fatores e índices que determinam os valores médios unitários de metro quadrado (ou linear) de terreno e da construção. Produzir essa Planta é um dos trabalhos mais complexos e complicados da Prefeitura, a lembrar que a sua elaboração vai refletir diretamente no valor do seu IPTU. Por isso, a Justiça entende que a tal Planta deva ser aprovada por lei.

Apurada a base de cálculo do IPTU, por meio da referida Planta Genérica de Valores, as Prefeituras aplicam uma alíquota sobre o valor alcançado, para, então, determinar o valor do imposto que deverá ser lançado e pago pelo contribuinte. Essas alíquotas podem ser variáveis (ou progressivas) ou fixas para todos os imóveis da cidade. A progressividade pode ser, de acordo com a lei do Município, em função da localização, da destinação ou do valor venal do imóvel. Assim, imóveis que têm o mesmo valor venal numa cidade podem ter alíquotas diferentes, a depender do local onde está situado, ou de sua destinação (se residencial, comercial ou industrial).

Cada Município estabelece suas alíquotas, aprovadas por lei. Abaixo, um exemplo de alíquotas em algumas Capitais, para imóveis residenciais:

Valor a ser pago de IPTU de imóveis residenciais com valor venal de R$200.000,00 (1)

Município
Alíquota
IPTU (R$)
Aracaju
0,80%
1.600,00
Belém
0,60%
1.200,00
Belo Horizonte
0,70%
1.400,00
Campo Grande
1,00%
2.000,00
Curitiba
0,95%
1.900,00
Florianópolis (2)
1,00%
2.000,00
Fortaleza
0,80%
1.600,00
Goiânia (3)
0,55%
1.100,00
Manaus
0,90%
1.800,00
Natal
0,70%
1.400,00
Porto Alegre
0,85%
1.700,00
Recife
1,20%
2.400,00
Rio de Janeiro
1,20%
2.400,00
São Luiz
0,70%
1.400,00
São Paulo
1,20%
2.400,00
Vitória (4)
0,20%
400,00


(1)   Alíquotas pesquisadas na Internet conforme as leis dos Municípios;
(2)   Alíquota dos imóveis de 301 a 600 m² de área construída;
(3)   Depende da localização do imóvel – consideramos a maior alíquota;
(4)   Alíquota tão reduzida que confessamos estar em dúvida a veracidade da origem da nossa pesquisa.