sábado, 27 de outubro de 2012

O resultado das eleições na comunidade

Os dois candidatos a Vereador aqui da comunidade não foram eleitos. Chinelinho recebeu 53 votos e Índio das Verduras teve apenas 2 votos, dos quais, um dele próprio e o outro, ah, um verdadeiro mistério, motivo de grandes especulações em toda a comunidade.

Disse Índio das Verduras que mais de cem pessoas garantem ter votado nele, cada um a afirmar que aquele segundo voto foi o seu, a gerar certo desconforto na população local, diante das contradições entre as pesquisas pós boca de urna e o número de votos obtido. A mulher do Índio não votou porque ficou o dia todo na cozinha, fazendo almoço para os eleitores, a cumprir o programa de compra de votos instituído pelo marido. “O seu voto por um almoço” foi o slogan do seu programa de compra de votos, sendo servidas mais de cem refeições gratuitas, segundo estatística da sua mulher.

“Fui roubado”, desabafou Índio das Verduras. “Aquela maquininha trocou o meu número para o de outros candidatos, e a prova está aqui! Todos que almoçaram de graça votaram em mim e os votos não apareceram”. Diante de tantos testemunhos, acredita-se piamente que o candidato foi realmente roubado pela maldita urna eletrônica. Fortes indícios de conspiração, sem dúvida.

Chinelinho discorda. Sua opinião é de que o povo mente com a maior cara de pau. “Meu programa de compra de votos foi trabalhar um mês de graça. Nunca limpei tanta caixa de gordura na minha vida, foram mais de duzentas. E tive só 53 votos”. A revolta de Chinelinho se concentra na população: “uma turma de invejosos! Não me querem ver sair da merda!”. Literalmente.

De qualquer modo, especula-se de quem foi o outro voto do Índio das Verduras, se tantos afirmam ter nele votado. E todos, veladamente, abençoam este segundo eleitor, pois, se não fosse ele, não haveria nem este resquício de dúvida pairando no ar. Eu, particularmente, estou fora de qualquer suspeita, uma das vantagens de ser velho é a de não votar. E a minha mulher, todo mundo sabe, sempre anula o seu voto, ninguém o merece, segundo ela. Mas, justiça seja feita, não pediu limpeza de graça da caixa de gordura e nem almoçou na casa do Índio das Verduras. Ela é incorruptível.

Os dois candidatos já se preparam para as próximas eleições, mas reconhecem, reservadamente, que os seus programas de compra de voto foram um fracasso. Precisam criar um método mais inteligente, mais sofisticado.

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