terça-feira, 31 de julho de 2012

Lambisgoia

Lambisgoia (antigamente usava-se acento no o, hoje não) é uma palavra em desuso e a juventude não a conhece. Lambisgoia pode significar: mulher antipática; mulher afetada e pretensiosa; e mulher mexeriqueira e intrometida. Aliás, lambisgoia é expressão exclusiva para mulher, não existe homem “lambisgoio”, não sei o motivo. Não podemos, então, dizer “Vossa Excelência é um lambisgoio”, está errado, mas, se a Excelência for mulher, pode usar lambisgoia à vontade. Diferente, portanto, da palavra presidente; homem pode ser presidente e mulher presidenta.

Minha mãe usava essa palavra no sentido de afetada ou pretensiosa. Se fosse mulher mexeriqueira, minha mãe a intitulava de fofoqueira e todo mundo entendia.

Estou falando isso ao ler a notícia de que a mulher (namorada? Noiva? Esposa? Não sei) de um honrado cavalheiro trancafiado na prisão, tentou fazer chantagem com o juiz para soltá-lo. Mostrou ao juiz documentos de sua suposta amizade com três pessoas aparentemente nefastas e ameaçou publicar tais documentos, caso a juiz não liberasse o distinto namorado, noivo ou marido.

Sem dúvida, uma mulher lambisgoia no sentido de pretensiosa, minha mãe diria. Mas, ameaçar um juiz por meio de chantagem também é um ato criminoso. Chantagem é uma forma de constranger alguém, por violência ou grave ameaça, com intuito de obter uma vantagem. Está lá no art. 158 do Código Penal.

Curiosa a reação do juiz em simplesmente expulsar a lambisgoia do seu gabinete. Não seria motivo de incontinenti ordem de prisão? Conheço um caso de um empresário oferecer propina a um Fiscal. Este foi à polícia e denunciou o fato, mas a polícia explicou que sem provas materiais nada podia fazer, e tudo ficou por isso mesmo. Entretanto, Fiscal é Fiscal, Juiz é Juiz, não teria este a presunção da legalidade e veracidade ao afirmar a coação sofrida? Ou esse negócio de fé pública não tem qualquer serventia?

Sou do tempo que falar com juiz no seu gabinete só faltava ajoelhar-se. Era Excelência pra lá, Excelência pra cá e o juiz, posudo na sua cadeira alta, somente olhava o vil mortal à sua frente em raríssimos momentos. Ficava examinando os processos existentes na sua mesa, enquanto o mortal falava, falava. No final, um sussurro grave de “está bem, vou examinar o seu caso”, ou, então, “vou ver o que pode ser feito”, e encerrava-se a audiência. E o cidadão saía do gabinete andando de costas, a curvar o pescoço, dizendo “obrigado, Excelência”.

Os jovens podem pensar que isso é um exagero, mas aquele comportamento vetusto já impedia qualquer tentativa ousada de se fazer propostas indecorosas ao magistrado. As pessoas se borravam de medo diante de tamanha seriedade.

Eu sei que os tempos mudaram. Já vi juiz presidir sessão calçando tênis, tudo faz parte dos tempos modernos. Mas, chegar ao gabinete e fazer chantagem, isso eu nunca tinha visto acontecer. Daqui a pouco, uma lambisgoia qualquer terá a ousadia de oferecer propina a um juiz! Não!! Estou exagerando! Isso nunca acontecerá.  

domingo, 29 de julho de 2012

Os fantasmas

“Ad rastro solidão!”, disse-me o fantasma às minhas costas, naquele jeito truncado do falar dos fantasmas, cujo sentido interpreta-se aos poucos, com a dificuldade normal dos viventes de entender as mensagens internadas no passado.

Uma explicação: tenho recebido fantasmas na minha casa, são três precisamente e todos abusados. Entram sem pedir licença, invadem o meu espaço com ares de dono da casa, mexendo em tudo, passando o dedo nos móveis e ironizando a presença de poeira, “empregada aqui tem não?” perguntam com aquele sorriso malévolo, típico de fantasmas.

No início, levei um susto, hoje já estou acostumado, ficam aqui, ao meu lado, xeretando tudo que faço, agora mesmo tem um a chamar os outros e dizer que estou escrevendo sobre eles. “De nós escrever vai?” Se tem algo que me irrita nesses fantasmas é essa forma de falar, enviesada. Não respondo, aliás, nunca respondo indagações de fantasmas, seria a prova de suas existências e de que estou ficando maluco.

Mas aquele “ad rastro solidão” me deixou intrigado. O que ele quis dizer? Aguentei firme e não perguntei, seria um início de conversa e eu nunca conversarei com fantasmas! Que frequentem a minha casa, perambulem por aí, mexam em tudo, mas conversar nunca! Mesmo assim, o “ad rastro solidão” não me sai da cabeça.

Outra explicação devida é a de que já conheço esses três fantasmas que resolveram me importunar. Um deles é da minha infância, sei disso pelas referências que faz de uma vida distante, coisas das quais me lembro, embora remotamente. Outro é do meu tempo de adolescência, comentários maliciosos a certas coisas que fiz na juventude. O terceiro parece ser da minha idade adulta, mas, curioso, me acusa de fatos praticados que juro não lembrar. Mais fácil lembrar-se do tempo da infância do que de fatos ontem ocorridos.

Eles não têm imagens, facilitaria distingui-los se tivessem. São sombras, somente sombras, que vagueiam ao meu redor. E o prazer deles é criticar-me! Só falam mal de mim, nenhuma palavrinha de elogio ou de consideração. Não é por que estou aqui para ficar ouvindo elogios de fantasmas, ora, quem se importa com fantasmas! Mas, por favor, viver cercado de fantasmas a falar mal o tempo todo, tenha paciência! Parece até que a minha vida foi toda de erros e pecados. Pois não foi! Tenho certeza de que fiz coisas boas! “Boas quais fez?”. Sei lá! Não estou aqui para refletir sobre o meu passado, não vivo a olhar para trás. E não lhe respondo, fantasma imbecil, apenas escrevo.

Agora os três conversam, confabulam, trocam informações a meu respeito. Não sei do que falam, mas tudo é mentira, tenho certeza. Vou negar sempre, não fiz nada disso, tenho a consciência tranquila... “Ad rastro solidão”, o que ele quis dizer?

“Fraco pulmão bateu nele de menino”... E vem me lembrar isso agora? Eu me lembro sim! Eu era uma criança! Não sabia que o garoto era fraco dos pulmões! Só vim a saber quando a mãe dele foi se queixar com a minha. E não vem me dizer que ele morreu por minha causa, ela já sofria dos pulmões. Este é um assunto já esquecido, tantos anos se passaram...

“Menina deflorou grávida talvez”... Grávida? Nunca soube disso! Éramos jovens, inconsequentes, é verdade, eu tinha... O quê? Dezessete anos, acho. Foi um namorinho... Ela tinha quatorze, se não me engano... Ela chorou... Eu nunca soube nada de gravidez... Fui embora daquela cidade no dia seguinte, mas ela sabia onde eu morava... A cidade, pelo menos... Acho que não dei o endereço...  Nunca mais nos vimos... Grávida?

“Suicida amigo ajuda pede conhecer finge não”... O quê é isso? Aconteceu quando? Não me lembro de amigo nenhum me pedindo ajuda, fantasma nojento! Ah! Está se referindo àquele cara, qual era o nome dele... Não me lembro, mas ele nunca foi meu amigo! Sei que ele me ajudou um dia... Por interesse! Eu era o seu chefe, queria me agradar. Ele suicidou-se... Eu não sabia... Alguém comentou... Não prestei atenção...

Fantasmas importunos! Ironia da vida... Agora, já velho, a morar sozinho nesta casa aos pedaços, sem ninguém a me procurar, quem me aparece? Esses fantasmas que atormentam o meu sossego. “Ad rastro solidão”... O quê ele quis dizer?

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O julgamento de Lucca D’Epaminondas

Esta foi uma semana de correrias e tumultos em frente do Tribunal da Suprema Corte americana, em Washington D. C., tudo em razão do julgamento preliminar de indiciamento do genial inventor Lucca D’Epaminondas.

As arquibancadas e cadeiras estavam totalmente ocupadas pelo público no plenário do Tribunal, a obrigar a polícia em dividir as torcidas para evitar conflitos. Presidiu a Sessão o honorável juiz, Ping Pong Lee, de 128 anos, assessorado por dois enfermeiros, um para empurrar a cama hospitalar e outro para observar e manter os soros bem aplicados. Não foi permitida a presença de pipoqueiros e vendedores de vodka e energéticos.

Entre aplausos e vaias deu entrada ao recinto o extraordinário cientista, com sua vestimenta tradicional: o abeie, ou capa branca, sandália havaiana e touca negra com uma estrela solitária estampada, tendo ao lado uma foto do jogador Seedorf, de 83 anos, que joga por um clube brasileiro.

O primeiro dia do julgamento foi usado para leitura do processo, de 32.843 folhas, revezando-se na leitura os cantores Frank Sinatra Tataraneto, Elvis Presley, que reaparece após longo e misterioso desaparecimento, e Andrea Bocelli, este último vaiado quando cantou, na abertura, o hino nacional americano em versão italiana. Os cantores foram acompanhados pelo coral da Oitava Igreja Batista do Condado de Biloxi, Estado do Mississipi, sob a regência do maestro John Grisham.

O depoimento de Lucca D’Epaminondas transcorreu sob forte tensão do público que pela primeira vez manteve-se em silêncio, exceto no momento da ola. O cientista reafirmou que nunca na história deste planeta proclamou sua vacina como salvação daqueles que já portavam o terrível mal. “Eu sempre disse que a vacina evita a doença, mas é ineficaz aos que já a contraíram”, disse o inventor.

O advogado de acusação, Dick Wolf, enfatizou a terrível frustração dos portadores do mal, a sentirem-se condenados à morte e renegados à própria sorte: “A proclamada vacina de cura provocou um sentimento de esperança e euforia ao grande universo dos portadores deste mal nefando, para, logo depois, sofrerem a profunda decepção diante da cruel realidade”. Mais adiante, o advogado explicou que a vacina viola o princípio constitucional da isonomia, pois sua ainda duvidosa eficácia recai somente sobre aqueles que estão livres da doença. “A vacina divide a população entre saudáveis e doentes, e demarca estes últimos com o estigma da prematura condenação”, salientou o jurista.

Dick Wolf manteve o pedido de indenização, no valor de 1 bilhão de dólares, a favor da Associação dos Portadores do Terrível Mal, recentemente constituída.  

A advogada de Lucca D’Epaminondas, Susan Sarandon, apresentou gravações de entrevistas do inventor, para comprovar que ele sempre alertou sobre a inaplicabilidade da vacina nas pessoas que já padecem do mal. “Esta vacina erradicará esta terrível doença, mas de forma gradativa, a partir da vacinação dos recém-nascidos. Sua invenção é um verdadeiro milagre, porém não consegue, infelizmente, reverter daqueles que já se encontram em estágio terminal”, disse a renomada advogada, que já foi freira e hoje é casada com o jogador de basquete, Tim Robbins. O marido não estava presente porque disputa um torneio de basquete de praia nas areias de Copacabana, famoso balneário de Buenos Aires, Capital do Chile.

Após as alegações finais, o juiz Ping Pong Lee foi despertado por um dos enfermeiros e deferiu o indiciamento, que levará o cientista a responder por danos materiais e morais diante do júri, em futuro julgamento ainda a ser marcado.

A defesa vai recorrer.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O veículo Air Mobil

Mais uma invenção de Lucca D’Epaminondas fadada ao fracasso. A extraordinária mini aeronave, batizada pela imprensa de “Air Mobil”, somente será permitida a partir do próximo século, conforme decisões das autoridades militares dos serviços aéreos.

A apresentação do veículo no Hyde Park de Londres deixou boquiaberta a platéia. O pequeno veículo, com lugar para dois passageiros, levantou vôo sem produzir qualquer som e passeou tranquilamente por entre as árvores ou quase a encostar-se ao solo, para depois subir repentinamente na vertical e imobilizar-se há mil metros de altura. O genial inventor explicou que o veículo utiliza a energia pura, também inventada por ele, e pode decolar ou pousar em qualquer lugar num pequeno espaço de três metros de diâmetro. “O veículo possui um dispositivo que evita qualquer choque, desviando-o de obstáculos, até de um pássaro, além de poder voar sob comando próprio; basta o piloto determinar o destino”, disse Lucca D’Epaminondas.

Durante a apresentação, o criador do Air Mobil deu ênfase ao fato de que a aeronave seria a grande solução para o caótico trânsito de veículos terrestres nas grandes cidades. “O espaço é amplo, o percurso mais curto, por que ficarmos presos no trânsito das ruas e rodovias se há a alternativa do espaço aéreo?”.

O Diretor do Departamento de Trânsito de Londres, Mr. Rolls-Royce Ghost foi reticente e irônico em relação ao invento. “Não podemos permitir que o nosso espaço aéreo seja invadido por essas coisas. Antes de tudo, precisamos estabelecer normas rígidas de tráfego e o licenciamento desses besouros silenciosos”. O irônico e famoso jornalista francês, Honoré de Balzac, presente à demonstração, perguntou ao Diretor: “Quando foi inventado o automóvel, o que veio na frente? A invenção ou a legislação de trânsito?”. Rolls-Royce Ghost respondeu que não sabia, pois não era nascido na época.

As empresas de aviação e os fabricantes de aeronaves reagiram de imediato contra o lançamento do Air Mobil. “Os aeroportos serão transformados em parques de diversões”, disse revoltado o CEO da gigante Star Linhas Aéreas, Orville Wright, ao ser entrevistado no programa coast to coast do humorista americano Edgard Alan Poe. Um dos entrevistadores, Walt Disney Jr, comentou que a ideia não deixa de ser interessante, a provocar gargalhadas entre os presentes.

O pessoal da aduana e da Polícia Federal de vários países ameaçou entrar em greve, se for aprovado o uso do Air Mobil. O líder sindical dos Auditores da Receita da Espanha declarou que os serviços de liberar passaportes, de fiscalizar bagagem e de caçar passageiros latinos americanos perderão suas finalidades de modo a deixar a categoria sem ocupação. “O que faremos, então? Vamos retornar ao antigo trabalho de fiscalizar contribuintes tributários? Isso será um retrocesso absurdo!”, desabafou o Auditor.

Devido à proibição, os bilionários Carlos Slim, Bill Gates, Warren Buffett e Eike Batista cancelaram suas encomendas de compra do Air Mobil. Os empresários El Chapo, Ayman Al Zawahiri, Matteo Denaro e Ibrahim Kaskar mantiveram suas encomendas apesar da proibição, mas Lucca D’Epaminondas cancelou o projeto de fabricação e desmontou o protótipo usado na apresentação. Disse ter aproveitado suas peças para fabricar uma bicicleta ergométrica.     

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O teletransportador

Em reunião extraordinária, o Conselho de Segurança da ONU proibiu a fabricação e o uso do teletransportador, o mais recente e fantástico invento de Lucca D’Epaminondas. A ordem será transmitida a todos os países e as autoridades deverão assinar um termo de adesão e acatamento à proibição. O genial inventor foi notificado de que não pode, em qualquer hipótese, divulgar ou descrever a tecnologia desenvolvida.

O teletransportador é um aparelho que transporta um objeto de um lugar para outro em fração de segundos, decompondo em átomos o bem transportado, para depois recompô-lo em outro local. Causou sensação a demonstração promovida pelo cientista ao transportar um telefone celular do Central Park de Nova York até o Champs-Elysées em Paris. Maior assombro ainda quando verificaram que o aparelho continuava funcionando normalmente após o transporte.

Lucca D’Epaminondas informou que o teletransportador poderá transportar também seres vivos, mas, inicialmente, seria usado apenas em produtos e mercadorias de qualquer peso e tamanho.

“Essa invenção provocará a extinção de todos os meios de transporte atualmente utilizados”, disse o presidente da federação sindical dos portuários dos Estados Unidos, John Sweeney IV, ao propor uma data para externar o ódio ao “Ícone do Mal”, assim chamado o cientista Lucca D’Epaminondas. A proposta não foi aceita, porque a Federação dos Amantes Frustrados de Bin Laden apresentou patente do título “Ícone do Mal”, com direitos exclusivos de uso ao grande terrorista árabe-sionista morto no século passado. O caso será decidido na Suprema Corte.

A CIA emitiu relatório alertando que o uso indiscriminado do teletransportador generalizará o contrabando, a transformar-se em poderosa arma do terrorismo internacional, sem possibilidade de controle e vigilância. “O tráfico internacional de produtos alucinógenos, como a cola de sapateiro fabricada no Brasil, será intensificado e sem condições de contê-lo”, afirmou o Diretor Geral da CIA, Arnold Schwarzenegger. O Diretor voltou a propor ações aéreas de destruição das fábricas de cola de sapateiro, a maioria localizada na pequena cidade de São Paulo, no interior do Brasil.

A decisão do Conselho de Segurança da ONU foi uma “ducha fria” aos anseios do governo chinês, que já enviara espiões para roubar a tecnologia guardada às sete chaves por Lucca D’Epaminondas. Há dois meses atrás, os jornais noticiaram a prisão de dois chineses que rondavam a casa do genial inventor, disfarçados em vendedores das exóticas sandálias havaianas. Ao prendê-los, a polícia alegou, como justificativa da prisão, a falsificação da mercadoria, pois as sandálias oferecidas saltavam as tiras, mas os jornais acreditam que o verdadeiro motivo foi a tentativa de invasão da casa do inventor para atos criminosos.  

A greve geral do transporte rodoviário de cargas foi suspensa, diante da proibição do teletransportador. Cogita-se um aumento no preço do frete, para compensar os dias parados.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A energia pura

O lançamento no mercado das “caixinhas mágicas” de energia pura já provoca graves distúrbios na economia mundial. O preço do petróleo caiu vertiginosamente e as empresas distribuidoras de energia elétrica estimam enormes prejuízos no fechamento de seus resultados neste exercício.

Desde a comunicação oficial da descoberta da chamada energia pura, três anos atrás, pelo maior gênio da humanidade, Lucca D’Epaminondas, as gigantescas empresas produtoras de energia demonstraram suas apreensões de um futuro sombrio, embora afirmassem ao público suas descrenças sobre a aplicabilidade da invenção. “Lucca D’Epaminondas surtou de vez”, chegou a dizer o Faraó Ramsés Laden, presidente da empresa de petróleo Shell Arabian. Na época, a informação do genial inventor de que uma pequena caixa blindada, de 25 centímetros de lado, abasteceria de energia uma casa residencial, foi ridicularizada na imprensa e por diversos cientistas. Contudo, o histórico de feitos extraordinários do fantástico inventor causou preocupação aos dirigentes das empresas produtoras de energia tradicional.

Como sempre, Lucca D’Epaminondas não respondeu aos críticos. Continuou trabalhando na sua invenção até lançá-la ao mercado no início deste ano. Estatística recente registra que moradores de três em cada dez casas já adquiriram suas caixinhas e desligaram a entrada de outras fontes de energia. E diante da plena satisfação dos usuários, a tendência é de aumento colossal no número de adesão ao novo produto.

Diversas indústrias já estão utilizando energia obtida do vácuo através das caixinhas mágicas de Lucca D’Epaminondas. Duas indústrias automobilísticas lançaram os seus novos modelos de veículos com a inovação. A propaganda de uma delas prega o “adeus aos postos de gasolina”, o que provoca profunda irritação no meio empresarial de distribuição de combustíveis. 

“O mundo não estava preparado para essa invenção”, disse o laureado economista Reagan H. W. Y. Bush na convenção da Associação das Mulheres Ultraconservadoras de Ohio. A convenção foi realizada num hotel da rede Ybis, que aderiu ao novo sistema de energia, o que causou certo constrangimento ao famoso economista ao ser comunicado do fato.

“Milhares de empresas fecharão suas portas e milhões de trabalhadores perderão seus empregos”, afirmou o primeiro ministro inglês, Sir Arthur Conan Doyle, ao determinar uma sobretaxa de cem mil por cento na tributação das caixinhas. O assessor do primeiro ministro, Sherlock Holmes, disse que a mesma medida deverá ser aprovada nos países da Comunidade Européia.

O primeiro ministro chinês, Ling Ling, não se pronunciou por estar hospitalizado. Como se sabe, Ling Ling perdeu um dedo ao cair do dorso de um elefante quando interpretava ao piano a Marcha Turca de Beethoven. Todavia, alguns assessores do primeiro ministro deram a entender que a China somente aprovará o uso das caixinhas quando Lucca D’Epaminondas fornecer a tecnologia ao governo daquele país.

O Japão já deu início aos trabalhos de desativação da usina atômica de Fukushima.  

domingo, 1 de julho de 2012

A longevidade

O mundo econômico vem alertando às autoridades políticas mundiais sobre as graves consequências que advirão com a nova idade média de vida da humanidade, resultante da última descoberta de Lucca D’Epaminondas relativa ao rejuvenescimento do ser humano.

Diante da miraculosa vacina produzida pelo maior gênio da História Universal, a idade média de vida passa a ser de 130 anos, podendo o Homem chegar aos 150 anos nas mais perfeitas condições de saúde física e mental.

Dizem os economistas que o mundo não está preparado para suportar o extraordinário aumento da população. “Sem dúvida, faltará comida para todos”, disse o laureado economista Robert Malthus VIII, famoso por sua obra prima, “Ensaio sobre o princípio da população moderna”, e, também, por ter largado a batina para casar-se com o contorcionista japonês, Fumagali Shibuya.

Além da crise mundial de comida, os especialistas alertam sobre a quebra geral que ocorrerão fatalmente nas previdências estatais e planos de previdência privada. Por isso, alguns países, como o Brasil, já aumentaram a idade de pleitear aposentadoria para 100 anos.

O Humanista hispânico-italiano, Calisto Borgia, prêmio Nobel da Paz, teceu duras críticas à longevidade humana. “Por que viver tanto?”, perguntou aos jornalistas, esclarecendo que a vida acima dos cem anos contraria a natureza humana. Ao ser perguntado se ele tomaria a vacina da longevidade, respondeu que sim, mas “somente para ter mais tempo de criticar e de alertar sobre os seus malefícios”, concluiu o Humanista.

Lucca D’Epaminondas recusou-se a participar da polêmica. Disse apenas que o objetivo da vacina é realmente de aumentar a idade média da vida humana, mas se alguém não quiser viver mais tempo, basta não tomá-la.

Apesar das críticas, as filas de pessoas que querem ser vacinadas atingem de 10 a 20 quilômetros de extensão nos países que a permitem. O governo chinês publicou lei proibindo a vacina, pela qual todos aqueles que atingirem a idade de 101 anos serão fuzilados em praça pública. O premier chinês, o ex-pianista Ling Ling, de 105 anos, informou que estão isentos da penalidade prevista na lei os membros do Partido Comunista. Cogita-se uma adesão gigantesca ao partido.

O governo sueco está preocupado com o aumento no índice de suicídios. O primeiro-ministro, Ingmar Bergman, disse: “Se os suecos já se cansam de viver com sessenta anos de idade, imagine com cem ou cento e dez anos!”. O governo daquele país já planeja a criação do Ministério dos Suicídios, que oferecerá condições e meios dignos de suicídio aos seus cidadãos, sem causar incômodos aos seus parentes em sepultamentos e inventários.