segunda-feira, 6 de maio de 2013

O genro do prefeito

O Prefeito detestava o genro, mas, pressionado por sua filha e, consequentemente, pela esposa, foi obrigado a empregá-lo na Prefeitura, apesar da enorme antipatia que lhe reservava aquele mandrião, um verdadeiro paspalho.

Nomeou-o para o Gabinete, sem saber, contudo, qual função daria ao idiota. Irritado por ser obrigado a atender aos pedidos da família, tramou um castigo: nomearia o genro para exercer uma função ridícula, que seria alvo da chacota de todos. Deu-lhe a incumbência de ser o chefe dos banheiros da Prefeitura, com a responsabilidade de tomar conta daqueles recintos, verificando quem os frequenta, quantidade de usuários, quem lá se esconde na vadiagem, quem dorme no vaso, em suma: os banheiros seriam dele! O genro nem por um momento percebeu a ironia do sogro, afinal, ele queria mostrar serviço, e, para ele, emprego é emprego, principalmente no cargo de Chefe.

Assumiu o cargo, levou papel e caneta, e passou a anotar as ocorrências sanitárias.  Cansado de ficar em pé, conseguiu uma mesa e uma cadeira, sentindo-se, então, um verdadeiro chefe. Afinal, não tem cabimento chefe sem mesa.  Dias depois, percebendo a surpresa dos funcionários ao encontrá-lo instalado no interior do banheiro, como se ali fosse um escritório, providenciou uma placa identificativa: “Chefe do Banheiro”.

Conseguiu uma máquina de calcular para ajudá-lo nas somas.  Mostrando-se bem criativo, procurou cumprir sua tarefa com perfeição, utilizando a estatística.  Uso médio de cada privada, percentual de utilização dos mictórios, tempo médio de permanência, custo per capita de papel higiênico, número de usuários versus contingente de funcionários, criou o PIB – Produto Interno do Banheiro, além de várias outras elucubrações matemáticas, todas perfiladas mensalmente em extenso relatório enviado ao Prefeito, seu sogro, sob o título “Confidencial”. O alcaide nunca os lia, mas os funcionários do Gabinete viam a capa lacrada daqueles relatórios e temiam o misterioso conteúdo. O que será que ele relata ao Prefeito? Seria ele o espião do Prefeito? Todos passaram a temê-lo e, por viés, adulá-lo. O Chefe do Banheiro passou a ser tratado com o maior respeito e consideração, todos procurando atender os seus pedidos, por mais estranhos que fossem.

Já assoberbado de trabalho, solicitou ao Departamento de Pessoal dois auxiliares.  Ao Departamento de Material duas mesas, cadeiras, um computador e uma impressora.  Esses equipamentos deram-lhe condições de ampliar suas atividades.  Mandou contratar uma moça para trabalhar no banheiro feminino e, logo depois, providenciou outra funcionária, pensando no problema do rodízio do almoço.  Sem lugar de guardar os papéis, mandou comprar arquivos e armários.  E selecionou uma secretária. Afinal, não tem cabimento chefe sem secretária.

Em vista do número de pessoas lotadas naquela Chefia, a Secretaria de Administração, em obediência ao Plano de Cargos e Salários da Prefeitura, e, principalmente, com o desejo de agradar o genro do Prefeito, transformou a Chefia em Departamento e ele de Chefe ao cargo de Diretor.  A essa altura, além do mobiliário, havia tantos funcionários trabalhando no interior do banheiro, que ele resolveu limitar o número de usuários.  Somente entraria um de cada vez, e os demais fariam fila do lado de fora. Aconteceram cenas desagradáveis, de pessoas apertadas, sem tempo de esperar e mijando no corredor. O Diretor, após profunda análise do sério problema e cansativas reuniões com seus auxiliares, determinou a criação de duas filas: uma dos usuários das privadas e outra dos necessitados dos mictórios, permitindo a excepcionalidade de um apertado furar fila, desde que solicitada a permissão formalmente, via requerimento protocolado. Tudo muito bem feito, com sinalizações e letreiros eletrônicos, adquiridos após vultosa licitação. E pediu à Secretaria de Obras a construção de mais dois banheiros, pois a demanda dos existentes estava efetivamente saturada. Devido ao seu tino empreendedor, e sugestões dos lobistas que o cercavam, criou o cartão magnético CGC – Cocô Golden Card -, com o qual o usuário poderia abrir as portas dos compartimentos de privadas, sem usar a mão suja nas maçanetas. Graças a este projeto, foi-lhe concedido o título de “O Inovador do Ano”, por uma revista de circuito nacional, em troca de razoável contribuição financeira. 

Quando foi promovido ao cargo de Superintendente da nova Superintendência de Necessidades Básicas – SUNEBA - assumiu, também, o controle dos bebedouros e da copa.  Tudo ia bem. Ao Prefeito, visivelmente surpreendido com o desempenho do outrora idiota, somente chegavam boas notícias, não pelo trabalho em si, mas por ser o genro do grande chefe, e o seleto grupo de sua intimidade não lhe afrontaria falando mal do marido de sua filha.

Especula-se que o genro será candidato a deputado federal nas próximas eleições.

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