quarta-feira, 30 de julho de 2014

A improbidade e o Servidor despreparado ou negligente

Muito interessante a decisão do Superior Tribunal de Justiça (AgRg no RE nº 1.374.776/GO), cujo relator foi o ilustre Ministro Herman Benjamin. Em ação proposta pelo Ministério Público, um Secretário Municipal de Serviços Urbanos foi acusado de improbidade administrativa por interferir nas fiscalizações promovidas pelos Agentes Fiscais do Município contra estabelecimentos de ensino e omitir-se na aprovação de interdições de escolas.

O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás manifestou-se contrário à condenação do Secretário por atos de improbidade, ao considerar que suas ações/omissões descaracterizam a improbidade por falta de provas robustas que a ensejariam. Ademais, seria inconcebível dissociar o ato de improbidade do dolo. E diz ainda: “No caso do apelado, denota-se apenas o despreparo do administrador público na forma de condução dos serviços prestados de fiscalização pública. Contudo, não visa a Lei de Improbidade Administrativa punir o agente despreparado, desleixado, mas sim aquele que usa da função pública para obter vantagens ilícitas ou para ofender a moralidade administrativa (grifo nosso). O STJ endossou a decisão acima.

Sem dúvida, essa decisão traz um alívio enorme ao servidor público despreparado ao exercício da função ou desleixado no trato dos assuntos públicos. Pode fazer as maiores barbaridades, mas ímprobo ele não é!

Na verdade, o servidor despreparado não é, necessariamente, um ladrão a obter vantagens ilícitas através do exercício de suas funções. Comete uma série de irregularidades funcionais e acaba provocando prejuízos financeiros ou perdas administrativas ao Poder Público em razão de suas nefastas decisões ou omissões, porém, o coitado não pode, por isso, ser acusado do crime de peculato. Contudo, quem o nomeou deveria arcar com a responsabilidade, pois, possivelmente, a nomeação do paspalhão pode ter sido proposital, vantajosa a quem o nomeou. Todo mundo sabe que a esperteza se abona pela incúria dos parvos. Nomear uma pessoa despreparada é sinal flagrante da irresponsabilidade de quem a nomeou, ou, então, algum propósito escuso o levou a designar o sujeito sem qualificações para a função.

Mas, servidor despreparado é uma coisa e servidor desleixado é outra. Desleixado é sinônimo de negligente, não ter cuidado com as coisas que faz. Em qualquer atividade profissional a pessoa desleixada é mais perigosa do que a pessoa despreparada. O despreparo pode ser corrigido por meio de treinamento, basta o despreparado ter boa vontade de aprender. Por sua vez, o desleixado não tem conserto, nasceu assim e assim será por toda a vida. A negligência é o pior defeito de uma pessoa em qualquer tipo de serviço, seja público, seja particular. O negligente não é, obrigatoriamente, um parvo, pode até ser uma pessoa inteligente, por incrível que pareça. Mas, é negligente, é desleixado no trato das coisas, sempre a desconsiderar qualquer norma ou qualquer rotina de serviço que deveria respeitar. Considera-se, muitas vezes, superior àquelas bobagens que deveria cumprir. O negligente não gosta do que faz, e, por isso, faz de qualquer modo e sem qualquer cuidado.

A negligência deveria, sim, ser considerado ato de improbidade administrativa, pois, sem dúvida, ofende a moralidade administrativa. Moralidade significa favorecer os bons costumes, conduzir-se pelos princípios da ética. A negligência viola a moralidade em todos os sentidos. Neste ponto o STJ errou.


terça-feira, 29 de julho de 2014

Conclusões (meramente) precipitadas

Maquiavel (autor de O Príncipe) foi o introdutor da figura do Consiglieri na máfia italiana. No mundo moderno, o Consiglieri integra o Conselho Administrativo e Fiscal das grandes empresas.

O Conselho Administrativo da Petrobrás nada teve a ver com a compra da refinaria de Pasadena. O culpado (já devidamente indiciado) foi o Garçom que servia água e cafezinho durante a reunião e votou favoravelmente pela compra.

Sun Tzu (autor de A Arte da Guerra) era um general chinês medíocre que perdia todas as batalhas, mas, em compensação, adorava escrever.

O Governo resolveu afastar a médica que não quis atender um paciente. Por ser a única médica do Posto, o atendimento dos pacientes foi suspenso sine die.

Dunga promete mudar sua forma de conduta e de trabalho. Dessa forma, a CBF o contratou pela avaliação de um currículo ultrapassado. A CBF deverá reexaminar a contratação quando um currículo atualizado for redigido.

Ainda sobre o Dunga: ele disse que é contra o marketing individual dos jogadores. Agora tem que ser: “um por todos, todos por um”. O que um ganhar em propaganda terá que dividir com todos. Foi, assim, implantado o comunismo na seleção brasileira.

Os militares da PM que foram flagrados confessando o crime pelo vídeo instalado na própria viatura serão demitidos por burrice.

O caso do Deputado denunciado de peculato pela ex-esposa nos leva a seguinte conclusão: roupa suja não se lava em casa.

Se você quiser uma pista de pouso próxima de sua fazenda, compre uma que tenha algum governante como vizinho.

O Governo diz que o Brasil “vai muito bem”. Só não explica para onde vai.

Depois da Copa fica uma pergunta: onde o povo prefere se sentar? Na sala de aula ou na arquibancada de um estádio? Aliás, na famosa carta do Imperador Vespasiano para o seu filho Tito, ele perguntou: “Onde o povo prefere pousar seu clunis: numa privada, num banco de escola ou num estádio?” Clunis, você sabe o que significa. E assim o Coliseu foi construído.    


domingo, 20 de julho de 2014

A Herança

Da série: Manicômio Fiscal

Em plena campanha eleitoral, a Presidente chega aos grotões e faz comício na praça pública. Um sujeito se espreme na multidão e consegue aproximar-se da candidata.

- Senhora Presidenta! Senhora Presidenta! Com licença, eu sou o Prefeito do Município de Minhoca, que fica aqui do lado.

- Ah! Como vai, senhor prefeito? Tudo bem em Minhoca? Todos motivados?

- Se a senhora permitir uma palavrinha...

- Pode falar! Estou aqui na região para ouvir os reclamos da população!

- Não vou fazer reclamo nenhum, senhora Presidenta. Eu queria mesmo é dar um presente para a senhora!

- Ah é? Adoro ganhar presente!

- Ótimo! Eu queria dar o Município de Minhoca de presente pra senhora.

- Me dar o Município?

- Pois é. Bem, na verdade, o Governo Federal já tomou conta do Município. Falta só o registro da transmissão.

- Como assim?

- Veja a senhora: o repasse do FPM não dá para pagar a metade da folha do pessoal. A Receita Federal retém 25% do repasse, a título de INSS devido, além do pagamento de 24% de Previdência que fazemos todos os meses. O FUNDEB não paga nem um terço da folha da Educação. A Saúde está repassando agora só a quantia de R$4.000,00. Antes eram R$10.000,00. A desculpa é o programa mais médico. A Prefeitura tem que sustentar o Hospital Municipal quando antes o sustento era da Funasa.

- Ora, isso é problema de gestão!

- Se a senhora me perdoar, acho que é problema de congestão!

- O senhor cobra os seus tributos?

- Claro! Cobro o ptiú da minha casa e a do vice-prefeito. Vereador não paga, diz pra descontar do duodécimo que a Câmara não recebe por falta de dinheiro. O barbeiro pagava ISS, mas agora é MEI. Aliás, todo mundo é MEI agora. Não cobro taxa de coleta de lixo porque não coleto lixo por falta de dinheiro.

- E o repasse do ICMS?

- Ajuda. Dá pra pagar o aguadeiro.

- Aguadeiro?

- É! O homem que leva balde de água para as escolas e postos de saúde.

- Bem, o senhor deve tratar desses assuntos com os meus ministros...

- Mas eles nunca aparecem aqui!

- Ora, vá a Brasília!

- Com que dinheiro? Por favor, senhora Presidenta! Eu imploro! Assuma de vez a Minhoca... Quero dizer, o Município de Minhoca.

- Eu não posso fazer isso...

- Pode sim! Pega que o filho é seu. Por favor!