terça-feira, 4 de agosto de 2015

A TAM humilha os idosos



Foi assim: o meu voo de Porto Alegre para Brasília, dia 28 de julho, foi cancelado e a TAM providenciou a alteração, colocando-me no voo do dia seguinte. Paciência, essas coisas acontecem. Mas, a própria TAM marcou o meu assento ao lado da saída de emergência! Importante: no voo cancelado, o meu assento estava marcado na fila 2, longe, portanto, das saídas de emergência.

Ao entrar na aeronave, obedeci ao que estava no bilhete, sentando-me no lugar determinado. Quando todos os passageiros já ocupavam os seus lugares, um meninote da chamada tripulação dirigiu-se a mim e perguntou: “O senhor tem mais de 60 anos?”. “Tenho”, respondi. E ele, todo pomposo, fazendo alarde de sua notória importância: “Então, o senhor não pode sentar aí! Queira se levantar e procurar outro assento!”. Respondi: “Não saio, não. Quem me colocou neste assento foi a TAM”. E ele: “Se o senhor não quer sair por bem, vou chamar a segurança”. E lá foi ele, todo afoito, a procura da tal segurança, para me retirar por mal.

Fiquei no meu lugar, aguardando a chegada da dita segurança. Falei à senhora do lado: “Quando a segurança chegar, a senhora se abaixa pra não levar bordoada”. Tensão a bordo, todos aguardando a segurança. Quem chegou foi uma moçoila, que se autodenominou “Chefe da Tripulação”. “O comandante mandou dizer que, enquanto o senhor não sair daí, ele não sai com a aeronave”. Perguntei: “Mas, por que eu tenho de sair daqui?”. Ela, de nariz empinado: “Porque o senhor não tem condições físicas para manejar a saída de emergência!”. “E como a senhora sabe que eu não tenho condições físicas para manejar a saída de emergência?”, perguntei, realmente curioso em saber como aquela moçoila poderia conhecer as minhas condições físicas. Ainda pensei, “será que ela me viu fumando lá fora, na entrada do aeroporto?”. Ou, então, “será que eu estou andando curvado e ainda não percebi?”. “Será que estou babando?”. Passei discretamente a mão na minha boca. Não estava babando.

Não era nada disso, ela esclareceu: “Porque o senhor é idoso!”. E acrescentou: “A ANAC proíbe idoso de sentar nas saídas de emergência”. Resolvi, então, sair do lugar para não prejudicar os demais passageiros. Ela me conduziu para outra fila, avião lotado, e perguntou a uma senhora: “A senhora tem mais de 60 anos?”. A senhora respondeu: “Tenho 58 anos”. E a chefete do tripulacho: “Então, a senhora troca de lugar com esse senhor”. E a senhorinha, coitadinha, magrinha, franzina, andando com dificuldades, foi para o meu lugar. Para quem não sabe, a locomoção da porta de emergência representa uns 15 quilos de empuxo. Eu carrego um botijão de gás, levo nos braços três sacos de carvão, de 6 quilos cada um. Será que aquela senhorinha, de 58 anos de idade, ainda consegue levantar um botijão de gás? E a minha esposa? Com 62 anos de idade, corre 14 quilômetros diariamente. E troca o gás, com a maior facilidade. A conclusão: 60 anos é, realmente, o limite da capacidade física de cada um? 

Sentei-me no novo assento, peguei o meu cartão de fidelidade e coloquei toda a minha força nas mãos para rasgar o maldito plástico. Consegui! Quando o meninote passou por mim, mostrei a ele o cartão rasgado e disse: “Consegui rasgar o cartão da TAM com as mãos. Tente fazer o mesmo com o seu!”. Ele passou vazado.

O tripulacho da TAM tentou repassar a responsabilidade dos seus atos à Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC, mas essa agência em nenhum momento diz que os passageiros idosos podem ser constrangidos ou humilhados. Pelo contrário, a ANAC estabelece normas especiais para proteção das pessoas com deficiência, com idade igual ou superior a 60 anos, gestante, lactante ou pessoa com mobilidade reduzida. Essas pessoas compõem um grupo que a ANAC denomina de PNAE. Diz a agência que o PNAE tem atendimento prioritário. Poucos sabem, por exemplo, que o PNAE goza de um desconto de 80% por excesso de bagagem para o transporte de equipamentos médicos.

A TAM não segue a ordem de questionar o PNAE, antes de embarcar, sobre as suas condições físicas, até mesmo para saber se ele pode, ou não, viajar junto às saídas de emergência. Aliás, a regra da ANAC sobre a vedação nas saídas de emergência está claramente voltada ao PNAE que sofre de alguma deficiência, pois diz que essas pessoas devem ter assentos especiais, junto ao corredor, dotados de descansos de braços móveis, sendo vedada sua localização nas saídas de emergência. Ora, nunca a TAM me disponibilizou assentos especiais, justamente pelo fato de eu não precisar, por enquanto, de tais benefícios.

E mais ainda: a ANAC autoriza piloto de aeronave comercial com idade de até 65 anos. E a própria ANAC esclarece: “Os estudos concluíram, também, que a capacidade psicofísica de uma pessoa não está restrita somente ao fator idade e sim a vários outros fatores”. Ora, esses estudos só servem para pilotos de avião?

Espero nunca mais viajar na TAM. Pelo menos enquanto eu não for tam-tam.

Um comentário:

  1. Postei hoje no Controle de Qualidade do Facebook algo que aconteceu comigo semelhante ao ocorrido com você. No dia 04 do mês de julho do ano de 2016 no voo JJ 3519 da linha área Latam Airlines, trecho Brasília / BSB – Vitória/ES, portador do bilhete do ETKT nº 49572131734614, Sequence nº 94, após embarque ocupou o assento 12 “C” corredor, que, como dito antes, lhe fora reservado por ocasião do check-in. Me perguntaram se tinha mais de 60 anos, como a respostas foi afirmativa me disserem que não poderia viajar ali e que deveria mudar de assento. No meu caso até o comandante da aeronave veio me dizer que teria de mudar de assento, perguntado o porquê, a resposta foi que há uma determinação (Resolução) da ANAC que coloca homens e mulheres com idade igual ou superior a 60 anos no rol de passageiros com necessidade de assistência especial. Eis a explicação. Por fim, fui discriminado, constrangido, tratado como um incapaz, um estorvo, em profundo desrespeito ao Estatuto do Idoso e à Constituição Federal. Enfim, se é verdade que a ANAC autoriza piloto de aeronave comercial com idade de até 65 anos, cujo argumento é que estudos indicam de forma conclusiva que a capacidade psicofísica de uma pessoa não está restrita à sua idade cronológica, mas a vários fatores, dentre eles a idade biológica. Tal como você arguiu, pergunto: esses estudos só servem para pilotos de avião? Idosos do Brasil, unamo-nos!

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