sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Zika Vírus na Comunidade

Fui de tarde comprar cigarro na padaria e encontrei a turma reunida em frente da banca de jornais do Daniel. Dona BPereira, dando de mamar ao mais recente filho, dominava a discussão:
- Não vem que não tem! Na minha casa ela não entra!
O que foi, o que não foi, Daniel me explicou:
- A Vigilância foi na casa da BPereira pra botar um pozinho na caixa d’água.
Dona BPereira interveio:
- Aquilo é broxante, doutor! Não é nada pra matar mosquito não! Pensam que sou otária?
Tentei apaziguar:
- Acho que é a campanha contra o zika vírus.
Henheco, o eletricista comunista, entrou na discussão:
- Doutor! Este vírus é mais uma invenção das multinacionais pra vender mais remédio! Me diga, doutor, há quanto tempo existe esse mosquito?
- Bem, Henheco, não sei... Acho que existe a centenas ou milhares de anos...
Ele gritou:
Então!! E só agora esse vírus é descoberto! Isso é jogada pra vender repelente! É tudo feito em laboratório!
Chinelinho esperneou:
- Cambada de sacanas! A mesma coisa eles fizeram com a AIDS!
Henheco aproveitou a deixa:
- Bem lembrado! Eles inventaram a AIDS pra acabar com os homossejuais!
Ele queria falar homossexuais, mas tudo bem. Dona Zica das Tainhas comentou:
- Eu me lembro, coitado do Pitéu, pessoa maravilhosa, educada...
Pitéu era um jardineiro na comunidade. Era gay e morreu com AIDS. Tentei intervir:
- Gente, AIDS não pega só em gay...
Daniel resolveu participar:
- Mas a doença começou numa cidade americana onde o prefeito era gay. Muita coincidência, não é, doutor?
E Henheco:
- Pois é! Essa burguesia nojenta queria acabar com os homossejuais como sempre quis acabar com todas as minorias!
O vigia Bill, sempre de calça moletom e sem camisa, entrou na história:
- O meu patrão me mandou tirar todos os pratos dos xaxins e varrer o quintal todos os dias. Ele não quer água depositada nem em cima de folha caída no chão.
O Bill sempre repete as ordens do seu patrão.
E dona BPereira:
- Eu disse pra mulher: você só bota pozinho na minha caixa d’água se espalhar na lagoa. A lagoa, doutor, está cheia de mosquitos e não fazem nada!
- E o que ela respondeu?
Dona BPereira deu uma risada:
- Ah, Ah, ela disse que o trabalho dela é só nas casas. Aquilo é broxante, doutor! Não é nada pra matar mosquito!
Henheco estava a toda:
- Broxante pra diminuir o número de pobres! Não tem emprego pra todo mundo, então, o negócio é diminuir a população!
Caramba! Pura teoria da conspiração. Se fosse ao tempo da ditadura já estaríamos presos! Falei mais alto:
- Mas, gente! Precisamos ajudar no combate desse mosquito, cada qual cuidando de sua casa, não deixar água depositada, limpar o quintal! O mosquito que nasce numa casa pode atacar em outra!
Dona Zica das Tainhas:
- Ontem eu matei um mosquito com uma chinelada.
E Pezinho, sentado no banquinho:
- Chinelada quem deu foi o Guerreiro no jogo contra o Atlético.
Pezinho só fala e pensa em futebol.

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