terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O silêncio das plantas


No terreno da minha casa tenho um pé de lima da pérsia, cajueiro, açaí, jabuticaba, pitanga, acerola, tangerina, lichia, mamão e cupuaçu. Cercado de muros é o meu mundo vegetal, onde minhas plantas vivem rodeadas de outros muros, de outros mundos, de outras espécies, das quais desconhecem o modo que levam a vida, e não se importam por não lhes dizer respeito. Às vezes, uma folha se libera ao vento, ultrapassa o muro e vem cair no mundo das minhas plantas. E elas nem se comovem diante do indício de vida vegetal do outro lado do muro. Pelo contrário, irritam-se com aquela invasão e desejam somente que a folha seja varrida ao lixo.

Cuido das minhas plantas com zelo e paciência. De vez em quando, tenho de acrescentar terra nova com insumos. A terra se esgota. Diariamente, cada uma recebe um balde de água. Quando chove, dispensa-se. O meu prazer é vê-las desabrochar felizes, mas nem consigo saber se são realmente felizes, por causa dessa vida enfurnada que levam. 

As plantas não me conhecem, embora tivesse sido eu que as plantei e que as mantenho vivas. Eu sou o criador, fui eu que as criei, mas quando me aproximo elas se calam, não conversam comigo, talvez pela descrença da minha existência, ou pelo simples fato de não saber como comunicar-se. Elas me ignoram, apesar de todo o amor que sinto por elas. Nunca lhes faria mal, porém, se eu deixar de regá-las, de enriquecer a terra, quem sabe, com fome ou doença elas voltem suas atenções para mim?

Não conversam comigo, mas lhes dou todas as oportunidades. Procuro atrair suas atenções, falo sobre o tempo, do sol inclemente e dos trovões ameaçadores, eu procuro mostrar a vida que levam e, de vez em quando, canto para elas, ao som dos pássaros que as procuram. Mesmo assim, elas se calam, recusam os meus convites. Seria bom se o criador pudesse ouvi-las, talvez alguns agradecimentos, talvez alguns reclamos, talvez alguns desejos que eu pudesse atender. Eu até as entenderia melhor e, quem sabe, ajudar-lhes-ia mais ainda. Talvez, preocupadas com a labuta diária, de alimentar-se, de gastar energia ao produzir suas flores e frutos, do ataque das formigas e dos pulgões, enfim, preocupadas com a rotina cansativa de suas existências, elas me deixam de lado, como se o criador fosse um ser imaginário, somente vivo nos seus pesadelos, ou lembrado nos momentos de desespero.

E seria tão fácil conversar comigo, o criador, eu as entenderia da forma que desejassem, por meio de vozes, pensamentos, gestos ou pequenos sinais. Eu gostaria de ouvi-las, assim, como se fosse uma boa prosa, e mesmo que não entendessem minhas palavras, poderiam se expressar na forma de uma oração brotada no âmago de seus seres. 

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