quarta-feira, 2 de março de 2016

A retórica do Imperador

A obra “O Imperador” de Conn Iggulden é ficção, mas o autor baseou-se em fatos reais da vida de Júlio César, o Imperador de Roma. Abaixo, algumas frases de César transcritas na obra:

“Um bom pai não estraga os filhos com presentes”.

“Precisamos de esgotos, segurança, comércio honesto e comida barata para viver”.

“Construímos para durar” (...) “Uma rua de cada vez, se for necessário”.

“Dê trabalho para que cada um produza o seu pão, e não fique na dependência da caridade oficial”.

São frases que continuam atuais, embora ditadas 100 anos antes de Cristo. A forma atual de educar os filhos, tanto dos pais quanto das escolas, é de um fracasso retumbante! O ato de dar presentes transformou-se em submissão perante os filhos, uma tentativa de comprar reconhecimento e respeito. Não mais uma retribuição ao bom comportamento, um presente por merecimento. Os pais querem comprar o amor dos filhos, uma maneira de apaziguá-los e compensar o distanciamento entre eles. Os pais estão separados da vida dos filhos e parece que há certo medo de perdê-los, de encarar a realidade ao ponto de confrontá-los. Não há avaliação de mérito em dar presentes, aliás, os próprios filhos escolhem o que querem e exigem que os seus pedidos se cumpram. Uma espécie de suborno afetivo.

Nas escolas, pior ainda. O presente é ser aprovado e “passar de ano”, pouco importa o grau de aprendizado do aluno. Poucas escolas ainda têm a coragem de reprovar um aluno. São raras. As escolas públicas são obrigadas a aprovar todos, estudiosos ou não, comportados ou bagunceiros, ordeiros ou violentos. Um professor de escola pública é humilhado na sala de aula, recebendo ofensas verbais ou físicas, mas é obrigado a baixar a cabeça, não pode reagir nem mesmo com o uso de sua autoridade para expulsar o aluno da sala. Aliás, professor não tem mais autoridade alguma. Esta é a educação que a criança recebe para o seu futuro. As escolas se defendem, dizendo que não lhes cabe educar, mas somente ensinar. Que a família eduque! Acabam não ensinando e nem educando.

Os serviços públicos são, desgraçadamente, vergonhosos. As coisas são feitas de qualquer maneira, apesar de verbas gigantescas que se esvaem nas valas gulosas das propinas e corrupções. O sistema de licitações públicas é de uma hipocrisia absoluta. Antes de iniciá-las já se sabe o vencedor, pois o chamado edital é feito por encomenda, dirigido especificamente para um dos concorrentes. As obras não são feitas para durar, todos de olho em futuras restaurações e mais verbas.

Há um trecho do livro de Iggulden em que alguém diz mais ou menos assim:

“se colocarmos uma segurança para proteger o povo dos ladrões, teremos, no futuro, de colocar outra segurança para proteger o povo da segurança anterior, que ocupará o lugar dos ladrões”. Parece ironia, mas é o que assistimos nos dias de hoje. A milícia foi um exemplo, a polícia, outra. Os bons policiais se perdem na avalanche dos malfeitores e fica a população desconfiada de todos, sem saber a quem pedir socorro. “Pega, ladrão, pega, ladrão!”, já cantava Chico Buarque.

A caridade oficial joga com a ignorância do povo, tentando comprá-lo com míseras dádivas. A estatística demonstra que o desemprego continua alto, mas os melhores cargos técnicos são pouco disputados por falta de candidatos aptos, a não ser para cargos públicos que não exigem experiência na função. E a esmagadora maioria não tem experiência e conhecimento técnico, porque os nossos jovens não recebem educação e ensino. Ou melhor, fingem que recebem. E o governo gosta de manter tal situação, pois diante de um povo devidamente educado perdem-se as rédeas do seu domínio. 

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