quinta-feira, 10 de março de 2016

O Capoteiro na Operação Lava a Jato

A excelente Jornalista Maria Cristina Fernandes (os seus artigos no Jornal Valor são imperdíveis) relata o drama do capoteiro Jorge Blanco, intimado no dia 26 de fevereiro passado para depor na Justiça. O Senhor Blanco é humilde morador no bairro de São Geraldo em Belo Horizonte e sua renda oscila na faixa de R$ 4 mil.

Perplexo com aquela intimação, o capoteiro ficou sem dormir os sete dias que se seguiram até a data marcada para comparecimento. Pediu socorro a um jovem advogado seu conhecido e lá foram os dois, no dia 4 de março, prestar depoimento no Ministério Público Federal.

Numa enorme sala, repleta de Procuradores, todos ouviram a voz do Juiz Moro em videoconferência, a dizer que, na condição de testemunha, o Senhor Blanco estava comprometido a dizer a verdade, só a verdade, apenas a verdade. Não pediram para jurar com a mão sobre a Bíblia, parece que esse costume foi abolido.

Nas perguntas iniciais logo perceberam que se tratava de um equívoco. O Senhor Jorge Blanco era capoteiro desde criança, não tinha nível superior, nunca ouvira falar da existência de um Banco chamado Schahin e não era argentino. Percebeu-se, assim, que o ex-diretor do Banco Schahin, o argentino Jorge Blanco era outra pessoa. Um mero erro de homônimos.

Mas, antes de chegarem a essa brilhante dedução, sem dúvida extraída de uma mente extraordinária, o capoteiro foi ameaçado a ser conduzido à Curitiba onde corria a ação criminal, provavelmente a ferros e acompanhado pelo japonês.

Depois que o capoteiro e o seu jovem advogado, ambos gaguejando (e quem não gaguejaria diante da voz impoluta do Juiz Moro?), explicaram que “blanco não era pleto”, um enorme silêncio dominou o recinto. O Juiz Moro perguntou se alguém queria se pronunciar. Os Procuradores, antes tão falantes e pomposos, calaram-se, olharam para suas próprias mãos e alguns se levantaram para beber um cafezinho.

Até o momento em que o Juiz Moro caiu na gargalhada, e todos riram (menos o capoteiro e o seu advogado) e o ambiente tenso foi descontraído. Liberaram, então, o intimado. E NINGUÉM PEDIU DESCULPAS AO SENHOR JORGE BLANCO!!

(Recomendo a leitura do artigo de Maria Cristina Fernandes no jornal Valor, de 10/03/2016).

Nenhum comentário:

Postar um comentário