sábado, 7 de maio de 2016

O Predador

Com o intuito de aumentar seus lucros e atender com maior rapidez a voracidade humana, as indústrias de frangos (que antigamente eram conhecidas pelo nome singelo de granjas) promoveram estudos e implantaram tecnologias que permitissem abater os animais com menos de dois meses de vida. Um frango de 42 dias já estava pronto para ser devorado.

Não se tratava mais de ‘criar galinhas’, mas de produzir frangos, entupindo os bichinhos de produtos químicos, vitaminas e fortificantes, para acelerar o crescimento e reduzir o tempo de criação. Em meio a essa corrida louca contra o tempo, na luta da concorrência, surgiram algumas deformidades, como galinhas com uma espécie de ‘elefantíase’ nas pernas. Ora, nada disso importa, porque o predador humano não vê o bicho vivo: já vem morto e separado em partes. E temperado a gosto.

Ocorre, porém, que a coisa está mudando. As chamadas ‘boas’ pessoas, aquelas cuja hipocrisia está acima da sua própria compreensão de que é uma pessoa hipócrita, não querem mais comer franguinhos tão novinhos, coitadinhos, que não tiveram nem tempo de gozar a vida. Essas ‘boas’ pessoas, certamente de origem educada e de boa formação, horrorizadas com o pouco tempo de vida dos pintinhos, exigem agora comer frango mais velho, vamos dizer, com 80 dias de vida. Ou seja, praticamente o dobro da vida de um coitadinho.

Com essa revirada do mercado de consumo, as indústrias de frangos já anunciam os dois tipos de faixas etárias: frangote de 42 dias e frango de 80 dias. É lógico que o de 80 dias é mais caro. O marketing gira em torno do seguinte: “Predador, deixe a sua vítima viver um pouco mais: coma Happy Chicken! O Frango Feliz!”.

Então é assim: as pessoas de bom coração, revoltadas com a matança de animais, estão dispostas a pagar mais um pouco para devorar frangos, digamos, mais idosos, o que atenua e disfarça suas consciências de predadores vorazes. Típico do ser chamado humano, não é mesmo?

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