quinta-feira, 21 de julho de 2016

Os elefantes

O sol reinava. O calor se alastrava. As conversas se arrastavam. Em monossílabos. Sem afirmações, fatos novos, sem qualquer convicção. O desgaste das conversas inúteis. O garçom não era mais chamado, apenas um breve sinal com a mão indicava o pedido de mais uma cerveja. Os copos se esvaziavam sem maiores explicações ou motivos. Os olhos nos copos, as mãos no copo, a boca no copo. O cansaço de não fazer nada.

Praia vazia. No quiosque do calçadão apenas eles três, quase deitados nas cadeiras dobráveis. Protegido na cobertura do quiosque, o garçom dormitava debruçado sobre o balcão. Mas, de vez em quando, olhava para a mesa dos três, a vigiar os sinais de pedidos. Quando via um braço estendido, em esforço sobre-humano levantava-se a pegar mais uma garrafa e levá-la à mesa.

Os três suavam em sonolência. O suor pingava sobre a mesa e escorria nas pernas. Alguns murmúrios a comprovar que ainda estavam vivos.

Foi, então, que passou sobre eles um elefante voando. O animal batia freneticamente as orelhas que o sustentava no ar. Flap, flap, flap, o barulho das orelhas em movimento. Um deles, com esforço hercúleo, levantou a cabeça e olhou o elefante voando. Os outros dois, de má vontade, fizeram o mesmo, a acompanhar o voo do animal até ele sumir no horizonte e o som das orelhas reduzir-se a nada, a voltar o domínio do silêncio.

Voltaram-se à posição anterior, cabeça baixa a olhar o copo. O garçom dormitava sobre o balcão. Até o mar dormia, sem ondas e o refluxo das marolas.

Mas, aos poucos, um barulho veio crescente, aumentando e aumentando. Era uma manada de elefantes que surgia no céu. Cada elefante batia com força suas orelhas, a tromba reta para frente. Um barulho ensurdecedor. Flap, flap, flap, o chão tremia, a mesa tamborilava, a garrafa de cerveja balançava perigosamente.

Com os olhos semicerrados os três olharam o céu e acompanharam a manada voando. Passava exatamente sobre as suas cabeças. Cada um a segurar o seu copo com uma das mãos e a outra a proteger a garrafa. Flap, flap, flap, os elefantes voavam em revoada organizada, a seguir o seu rumo, obcecados, como se fosse a fatalidade de seus destinos.

E assim como o elefante precursor, a manada foi sumindo no horizonte, sumindo, sumindo até desaparecer. E o silêncio voltou a dominar.

Retornaram às suas anteriores posições. Um deles levantou o copo e bebeu tudo num só gole. E murmurou: “Ainda bem”. Cinco minutos depois, outro deles perguntou baixinho: “Ainda bem o quê?”. E o terceiro, sorvendo a cerveja do seu copo, respondeu em sussurros pelo outro: “Ainda bem que não cagaram em cima da gente”. E os outros dois assentiram com leves movimentos de cabeça. 

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