sábado, 10 de setembro de 2016

As eleições municipais na Comunidade

Neste sábado, lá fui eu comprar o pão de cada dia. Faço hora em casa para aguardar a fornada das sete, mas, às vezes, sou convocado a participar dos debates em frente à banca de jornais do Daniel, que fica exatamente ao lado da padaria. Já percebi que a turma considera de grande importância a minha presença, apesar da minha mínima participação. Acho que sou o Dornelles da Comunidade.

Bem, Chinelinho me viu e gritou me chamando. Tive que ir. O assunto era eleição. Chinelinho foi logo pegando duro:

- Doutor! Em quem o senhor vai votar pra Prefeito?

Salvou-me a idade, bendita velhice!

- Eu não voto mais! A idade permite.

Dona BPereira, com o mais recente filho nos braços, sempre desbocada:

- Eu não voto em ninguém! Cambada de safados!

Henheco, o eletricista comunista, aproveitou:

- Eleição da burguesia! O voto não leva a nada! O regime só muda com a revolução armada!

O Daniel, sempre apaziguador:

- Calma, Henheco! Cada um vota de acordo com a sua consciência.

Dona Zica das Tainhas comentou baixinho:

- Eu vou votar naquele magrinho que fala: “Que Deus os abençoe”. Eu sempre respondo amém.

Índio das Verduras tirou um cartão do bolso.

- Vocês poderiam votar nesse cara aqui. O meu fornecedor do Ceasa, que me vende fiado, pediu pra conseguir voto pra ele.

O vigia Bill, com aquela calça velha de moletom e sem camisa, foi logo dizendo:

- O meu patrão me mandou votar num amigo dele. Disse que o cara é bom.

Pezinho, que só pensa em futebol, perguntou:

- O Romário vai ser candidato? Se for, eu voto nele... Jogava um bolão!

Chinelinho resolveu confessar o seu voto:

- Vou votar no Tinhoso da Pedreira! Me prometeu uma boca na Prefeitura...

Dona Zica das Tainhas fez o sinal da cruz.

- Tinhoso? Deus me livre!

Não resisti e falei me dirigindo ao Daniel:

- Está vendo, Daniel? Todos vão votar de acordo com as suas consciências.

Bokão, o pedreiro, foi o último a expressar a sua opinião:

- Minha consciência, doutor, é ter trabalho e botar dinheiro em casa.

Resolvida essa questão de consciência, fui à padaria comprar o meu pão. 

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