Deus se estende sobre o universo... Olhos infinitos observam um pequeno
planeta localizado nos confins da via láctea. “Por que tanta maldade contra os
meus profetas?”, pensa Javé. “Eu os criei assim”, conclui Alá. “Dei-lhes o
poder do discernimento e liberdade de agir”. “Lembro-me do que fizeram com João
Batista”, diz Adonai. “E os sofrimentos impostos à Moshé?”, comenta Alá. “E
agora essas infâmias contra o meu profeta Maomé”, pensa Deus, pesaroso e
triste.
“Demoram muito a aprender”, lamenta Javé. “Talvez Eu tenha superestimado
a inteligência deles”. Ao dizer isso, Deus recorda o passado: “Eu sabia que o
processo seria longo e penoso... Lembro-Me de Zoroastro e o nome que ele Me
deu, Ahura-Mazda, Senhor da Sabedoria, gostei deste nome, mas o bom homem
pregava a existência de outros deuses, subalternos a Mim... Ora, o honesto
Zoroastro...”, conclui sorrindo. “Alguns enganos foram cometidos, mas era a sedimentação
de novos fundamentos; sempre os deixei livres em suas crenças, e quantas vezes
à verdade pura acumularam superstições e mentiras”, completou Alá. “Sem dúvida,
a humanidade evoluiu, graças ao lento processo da descoberta, mas até o
presente, quanta estupidez cometida”, pensou Javé.
“Gosto também dos indígenas”, disse Tupã. “Mas estão cada vez mais
civilizados, coitados... Confundiam-Me com os relâmpagos e trovoadas”, Tupã deu
uma gargalhada. “Um tanto semelhante à civilização antiga da Grécia, quando Me
chamavam de Zeus e temiam a Minha ira”. Deus ria a valer. Depois, o riso cessou
e pensou acabrunhado: “Eles têm medo de Mim em vez de Me amar, e quanta maldade
praticam em Meu Nome como se Eu fosse o próprio carrasco”.
“Tive bons homens”, pensou Deus. “Um deles foi Sidarta Gautama, a quem
chamam de Buda. Não foi Meu profeta, mas isso não importa. A sua procura pela
verdade sempre me agradou”. “Não fiz um mundo para sofrimento”, diz Javé,
“embora os homens tenham escolhido este caminho”. “Dei-lhes um planeta rico e
fértil, mas não deixei de criar algumas dificuldades, ocasionais ou
permanentes, para evitar o mal da negligência e a nefasta indolência. Dei-lhes
um mundo estimulante, que os mantivessem pesquisadores, sempre a perquirir e
buscar inovações”, disse Alá. “Se Eu lhes desse um mundo perfeito, seriam eles
os imperfeitos em um reino de ociosidades”, concluiu Deus.
Alá estendeu suas vistas para outro lado do universo, fora da via
láctea. Avistou um planeta verde com três luas. “Eis ali um lugar propício a
uma nova experiência, de criar uma raça destinada a receber as Minhas dádivas.
Vou dar vida a uma nova humanidade que saiba aproveitar o bem que lhe foi destinado”, e assim decidiu o Pai Eterno..
E diante de tal decisão, os homens do planeta Terra foram abandonados à própria
sorte.
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