quinta-feira, 31 de março de 2016

Poucas e péssimas

O brasileiro perguntou o preço da mercadoria e o lojista respondeu. O brasileiro espantou-se: “O quê? Isso é um roubo!”. O lojista deu um sorriso: “Ora, qual a surpresa? Você, brasileiro, já vem sendo roubado há muito tempo”. O brasileiro respondeu irritado: “Mas não serei roubado por você! Vou comprar na loja vizinha!”. O lojista deu uma risada. “E será roubado do mesmo jeito. A diferença será apenas da cara do ladrão”. O brasileiro esbravejou: “Vou denunciá-lo no Procon! Vou fechar a sua loja!”. O lojista deu um muxoxo: “Pode fechar! Outro ladrão virá me substituir”. À noite, em casa, o brasileiro assistia na TV as notícias sobre o impeachment.

Currículo de idoso é documentado por exames clínicos.

O brasileiro foi pagar o ITBI, mas o servidor disse que precisava pagar primeiro o IPTU. Foi pagar o IPTU, mas outro servidor disse que precisava pagar primeiro o ISS da obra. O mesmo brasileiro foi pagar o ISS da obra, mas outro servidor disse que precisava pagar primeiro o habite-se. Foi pagar o habite-se, mas o servidor disse que precisava pagar primeiro o alvará de construção. Ele foi pagar o alvará de construção, mas o servidor disse que havia um auto de infração que deveria ser pago primeiro. O brasileiro procurou um vereador.

Supermercado é o shopping dos pobres. Admira os produtos nas prateleiras e nada compra.

Brasileiro foi votar e deu enguiço na sua digital. Não votou. Depois das eleições foi o TRE para justificar não ter votado e pegou fila quilométrica. Quando chegou a sua vez, foi informado de que deveria ir ao Banco pagar uma multa de R$3,00 por não ter votado. Explicou que não votou por enguiço na digital. O atendente deu de ombros, problema dele. De raiva, não foi ao Banco pagar os R$3,00. Dois anos depois, o brasileiro foi votar. Deu enguiço na sua digital...

Qual seria a economia do País se as eleições fossem livres?

Funcionários do Correio pagam a conta da bandalheira

Inacreditável! O Conselho de Administração da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos decidiu que os trabalhadores ativos e aposentados da empresa estatal vão sofrer um desconto de 17,92% nos seus salários e proventos, por um período de 23 anos (!!) para ajudar a cobrir o rombo no Fundo de Pensão Postalis.

O vergonhoso rombo no Postalis (dinheiro dos servidores do Correio) foi em razão de desastrosas e suspeitosas aplicações financeiras, algumas sem nenhuma razão de ser, como, por exemplo, aplicar R$167 milhões em ações de uma empresa de capital fechado! Ou seja, ações de valores não avaliados em Bolsas de Valores. Aliás, essa empresa recebeu investimento de quatro fundos de pensão estatais e ninguém sabe explicar as razões de tais aplicações!
Resultado: 71 mil trabalhadores e 30 mil aposentados pagarão a conta. E tudo fica por isso mesmo.

domingo, 27 de março de 2016

Probleminhas no oásis brasileiro

Da série: Conversas de Botequim

- Fala meu amigo! Como vai a força?
- Fora a zica, perna inchada, varizes, dor nas juntas, hemorroida e lumbago, vai tudo bem.
- É a idade, professor. Que cachaça é essa?
- Estou bebendo a Porto Morretes, envelhecida em carvalho. Excelente!
- Garçon! Me serve por favor a Porto Morretes que o amigo está bebendo.
- Como vai a sua Prefeitura?
- Ano difícil, não é professor? Mas, até que estamos segurando a onda, cortando algumas coisas dali, algumas coisas daqui, controlando as despesas, vai andando...
- Têm prefeituras que já estão atrasando os salários...
- Eu sei, mas espero não chegar a esse ponto. Pelo menos, aqui a política ainda está calma.
- Sem coxinhas e petralhas para tumultuar...
- Exatamente! O povo daqui está mais preocupado com a produção, rezando para que chova no momento certo e que não caia o preço das commodities.
- A soja vai bem?
- Vai. O problema maior ainda é o escoamento; sem ferrovias, estradas em péssimo estado, frete caro, essas coisas.
- E a receita?
- O repasse do ICMS continua firme. O ISS aumenta com os serviços terceirizados. O IPTU na mesma. O problema maior está no ITR porque os proprietários rurais não aceitam o aumento nos valores venais da terra nua. Estou sofrendo uma pressão danada!
- Você não criou uma comissão técnica para avaliar o preço da terra?
- Pois é! Criei, mas eles querem continuar com os preços do tempo do INCRA. Querem continuar pagando R$1 mil por hectare de terra plana quando o preço hoje atinge uns R$4 mil ou mais!
- E eles são poderosos...
- Bota poderoso nisso! Os sindicatos rurais mandam na cidade!
- E como você está conduzindo a coisa?
- Procuro negociar, mas não posso abaixar as calças!
- Tem razão, Prefeito. Duvido que eles vendam as terras por R$ 1 mil o hectare...
- Claro que não! Na verdade, nem por R$ 4 mil! Tem terra aqui que está valendo uns R$ 10 mil o hectare, dependendo da extensão da área total.
- Nossa! É dinheiro!
- Pois é. Tem fazenda que vale R$ 1 bilhão e o dono diz que vai quebrar se pagar o ITR que estamos cobrando. Brincadeira!
- Puxa, até mesmo aqui, neste oásis brasileiro, temos problemas.
- Isso mesmo, professor! Mesmo sem coxinhas e petralhas!
- Então, vamos brindar: que os coxinhas e petralhas fiquem distantes!
- Amém, professor! Já me bastam os sindicatos!

sexta-feira, 18 de março de 2016

O perigo que se avizinha

“A primeira coisa que temos a fazer é matar todos os advogados”
(Henrique VI, Parte II, ato 4, cena 2, de Shakespeare).

Da década de 50 até a de 70 o pavor dos governantes norte-americanos era o comunismo ser instaurado na parte baixa de sua vizinhança. Já bastava o pesadelo de Cuba. E assim, instigados, providos e corrompidos pela Agência Central de Inteligência – CIA, civis e militares, todos da direita radical e, como sempre, acompanhados pela rustica populus, deram início aos golpes militares na América Latina. Paraguai, em 1954; Brasil, em 1964; Argentina, em 1966; Peru, em 1968; Bolívia e Uruguai, em 1971; Chile, em 1973, para citar alguns.

Terminado o ciclo de pavor ao comunismo, a política americana passou a estimular o retorno do regime democrático, isso a partir da década de 80 e já ao finalzinho da década de 70. O país que mais demorou foi o Chile, somente em 1990.

Democracia instaurada tomou força o socialismo democrático, em razão, principalmente, do brutal e cruel desnível social que imperava na região. Mas, em alguns países, os conceitos de socialismo e populismo se confundiram. Enquanto o socialismo busca diminuir a distância entre ricos e pobres, através de uma melhor distribuição da riqueza, o populismo adota práticas políticas de estreitar relações diretas com as classes mais pobres e oferecer aos líderes políticos a oportunidade de desfrutar de maior popularidade. O populismo, quando desfalcado do relevante fator econômico do socialismo, pode desbancar para o lado da demagogia, forma de agradar o povo e ter condições, assim, de manipulá-lo, mediante promessas vãs e uma enorme capacidade de saber mentir sem perder o prumo. Na América Latina, tivemos alguns exemplos do populismo demagógico.

Contudo, o bom socialismo é aquele que sabe até onde pode ir, sem arruinar as classes mais produtivas e, consequentemente, mais ricas. E é aquele que sabe, também, estimular o crescimento da riqueza para oferecer melhores benefícios aos mais pobres. Ou seja, nada de dividir um pão no meio. A ideia é botar dois pães na mesa. E para tanto, sabem adotar uma política fiscal e econômica equilibrada e aplicar os recursos com critérios técnicos e justos no desenvolvimento social e econômico do país.

No Brasil atual, o programa que visa reanimar a economia e, consequentemente, a sociedade, foi deixado de lado e substituído por disputas políticas e policiais. O confronto passou a envolver o Judiciário, que deveria ficar a parte, como baluarte da defesa da segurança jurídica. Os poderes se misturam numa confusão dos diabos! O Poder Executivo, atacado por todos os lados, esquece suas prioridades e gasta todo o seu tempo em criar blindagens que o mantenha no poder. O Legislativo, um verdadeiro manicômio, já não é formado de partidos e coligações partidárias, mas de consórcios de interesses recíprocos, de grupinhos e grupelhos. O Judiciário atropela suas competências, radicaliza as posições de seus indivíduos, que agora passam a pentear diariamente os seus cabelos para apresentações na mídia.

Tudo isso só nos leva ao confronto. E do confronto ao autoritarismo é um pulo. Quem não acredita, basta estudar História. 

sábado, 12 de março de 2016

Dicas midiáticas

Prezado leitor,

Se você é um daqueles que sonha em aparecer, transformar-se em notícia na mídia, passar a ser conhecido e gozar de notoriedade em, pelo menos, quinze minutos da sua vida, procure observar as dicas que prazerosamente lhe oferecemos:

A – Use apetrechos que chamem a atenção de todos. Um dos mais indicados é uma melancia verde atada ao pescoço. De preferência, pesando uns dois quilos. Aconselhamos trocar a fruta de posição vez em quando: ora nas costas, ora na frente, para não provocar problemas na coluna.

B – Também de bom alvitre é a cromagem das orelhas. Você pode niquelar (com níquel) ou cromar (com cromo). Dói um pouco, mas o efeito é fantástico!

C – Se você for japonês, ou descendente de, ingresse na Polícia Federal e tente conduzir presos políticos. Não se esqueça de usar óculos escuros!

D – Se você pertencer ao Ministério Público procure atuar em ações contra pessoas famosas. Pedir a extradição do Papa, por exemplo, seria notícia internacional! E não importa que ele seja argentino, ninguém vai se lembrar desse pequeno descuido, afinal, tudo é latino americano. Mas, se alguém tocar no assunto, manda-o catar coquinhos!

E – De bom efeito é o ato de bater em morto. Consiga um defunto e enfia a pancada! E não tenha medo: morto não pode se defender.

F – Se você cometer uma fraude faça aquela que repercuta nos poderosos! E logo ameace a todos com delação premiada. Chegando neste ponto, você já poderá dar entrevistas em revistas sensacionalistas. Mas, não diga nada! Só insinue ou invente.

G – Em continuação à dica anterior, anuncie que você vai escrever um livro contando tudo! É lógico que você não vai escrever coisa nenhuma, se você nem sabe escrever, mas deixa a promessa no ar.

H – E, por último, siga aquele provérbio: ande sempre na companhia de poderosos ou pessoas ilustres, e faça de conta que você é um deles. 

quinta-feira, 10 de março de 2016

O Capoteiro na Operação Lava a Jato

A excelente Jornalista Maria Cristina Fernandes (os seus artigos no Jornal Valor são imperdíveis) relata o drama do capoteiro Jorge Blanco, intimado no dia 26 de fevereiro passado para depor na Justiça. O Senhor Blanco é humilde morador no bairro de São Geraldo em Belo Horizonte e sua renda oscila na faixa de R$ 4 mil.

Perplexo com aquela intimação, o capoteiro ficou sem dormir os sete dias que se seguiram até a data marcada para comparecimento. Pediu socorro a um jovem advogado seu conhecido e lá foram os dois, no dia 4 de março, prestar depoimento no Ministério Público Federal.

Numa enorme sala, repleta de Procuradores, todos ouviram a voz do Juiz Moro em videoconferência, a dizer que, na condição de testemunha, o Senhor Blanco estava comprometido a dizer a verdade, só a verdade, apenas a verdade. Não pediram para jurar com a mão sobre a Bíblia, parece que esse costume foi abolido.

Nas perguntas iniciais logo perceberam que se tratava de um equívoco. O Senhor Jorge Blanco era capoteiro desde criança, não tinha nível superior, nunca ouvira falar da existência de um Banco chamado Schahin e não era argentino. Percebeu-se, assim, que o ex-diretor do Banco Schahin, o argentino Jorge Blanco era outra pessoa. Um mero erro de homônimos.

Mas, antes de chegarem a essa brilhante dedução, sem dúvida extraída de uma mente extraordinária, o capoteiro foi ameaçado a ser conduzido à Curitiba onde corria a ação criminal, provavelmente a ferros e acompanhado pelo japonês.

Depois que o capoteiro e o seu jovem advogado, ambos gaguejando (e quem não gaguejaria diante da voz impoluta do Juiz Moro?), explicaram que “blanco não era pleto”, um enorme silêncio dominou o recinto. O Juiz Moro perguntou se alguém queria se pronunciar. Os Procuradores, antes tão falantes e pomposos, calaram-se, olharam para suas próprias mãos e alguns se levantaram para beber um cafezinho.

Até o momento em que o Juiz Moro caiu na gargalhada, e todos riram (menos o capoteiro e o seu advogado) e o ambiente tenso foi descontraído. Liberaram, então, o intimado. E NINGUÉM PEDIU DESCULPAS AO SENHOR JORGE BLANCO!!

(Recomendo a leitura do artigo de Maria Cristina Fernandes no jornal Valor, de 10/03/2016).

quarta-feira, 9 de março de 2016

A estação da muda

O Deputado Caladino Espinhaço chegou ao prédio da Assembleia já em processo de muda. A sua pele ‘descascava’, a liberar a pele vermelha antiga e surgir uma nova pele amarela.

“Está na muda, deputado?”, perguntou a chefe de gabinete do Deputado Rosvaldino Resoluto, vulgo RR.
“É a estação da muda”, respondeu o Deputado Caladino.
“A muda do Deputado RR já terminou! Ele agora está todo avermelhado”, disse a chefe de gabinete.
“Mas pode mudar! Tem deputado que sofre muda até duas vezes no mês”, explicou o Deputado Caladino.
“O gozado é que a muda nos políticos é diferente. Quem não é político só tem uma muda a cada ano e, às vezes, só de quatro a quatro anos”, comentou a chefe de gabinete.
“Pois é, um fenômeno que a ciência não explica”, entrou na conversa o assessor jurídico da Assembleia.
“Fico perplexa com o Deputado Julius Convictus! Nos oito anos que está aqui nunca entrou em muda!”, disse a chefe de gabinete.
“É mesmo! A pele dele é sempre cor de laranja!”, comentou o assessor jurídico.
“Acho que o Julius toma um remédio contra a muda”, segredou o Deputado Caladino.
“E tem remédio contra a muda?”, perguntou a chefe de gabinete.
“Dizem que tem, eu não conheço, mas dizem também que é muito caro”, explicou o Deputado Caladino.
“Ora, Deputado, os senhores ganham o suficiente para comprar qualquer remédio”, ironizou o assessor jurídico.
“Não é assim! Esse remédio é importado e só se consegue nas Ilhas Cayman”, respondeu o Deputado Caladino.
“E daí? Basta importar!”, comentou a chefe de gabinete.
O Deputado meneou a cabeça:
“Não é tão fácil! O remédio é proibido e para importar é necessária a intermediação de um operador de câmbio que saiba das coisas”.
“O senhor nunca tentou?”, perguntou a chefe de gabinete.
“Bem, o meu método é diferente. Prefiro ter a muda e depois me vacinar para manter a atual cor da pele”, explicou o Deputado Caladino.
“E essa vacina é cara?”, perguntou o assessor jurídico.
“Depende da cor da pele que se queira manter”, disse o Deputado.
E retrucou para terminar a conversa:
“Atualmente, a cor da pele que está na moda é rosa. Nem vermelho, nem amarelo”. 

domingo, 6 de março de 2016

O CLONE


Da série: Contos Fantásticos

Logo ao dar entrada no hotel na cidade de Nova York, dei de cara comigo. Lá estava eu, sentado na poltrona do saguão, vestindo paletó azul marinho e calça cinza, como eu uso, e gravata de laço duplo, do jeito que eu gosto. Fui ao meu encontro e ele sorridente cumprimentou-me.

“Você veio para o Congresso do Padrão Standard?”, perguntou-me o eu americano. “Sim, vim aprender alguma coisa com vocês”, respondi humilde. Expliquei que eu era brasileiro e representante da Associação Brasileira dos Clones Standard - ABCS, e estávamos enfrentando sérios problemas no Brasil. “Aqui também”, disse ele, “o padrão standard tem o maior número de clones nos Estados Unidos e muitos dos nossos estão exercendo profissões do padrão popular, o que é um absurdo. Se não fosse a vinda de latinos e asiáticos do padrão popular a crise seria muito maior”.

Na conversa, contei que a situação no Brasil era meio diferente. A maioria da população era constituída de clones do padrão popular. Um pequeno número de pais conseguia dinheiro suficiente para comprar DNA do padrão standard para seus filhos, pois o SUS só oferece padrão popular, e a bolsa família não é estendida às pessoas do padrão standard. “Quantos padrões existem no Brasil?”, perguntou-me. “Inicialmente, respondi, copiamos o modelo americano de três padrões somente: o Máster, o Standard, e o Popular. Mas o governo achou pouco e criou o Top Máster, especial para funções de presidentes da república, de multinacionais, de estatais, ministros da Justiça e do Estado, banqueiros, senadores, conselheiros da Petrobrás e alguns jogadores midiáticos de futebol. O padrão máster ficou reservado para deputados, juízes, procuradores, promotores, governadores, executivos de multinacionais, diretores de empresas brasileiras de grande porte, advogados criminalistas e técnico-professores de futebol”.

“Bem, disse ele, pelo menos o padrão standard continua bem diversificado no seu país. Todas as demais funções intelectuais permanecem restritas ao nosso padrão”. “É verdade”, concordei, “mas houve uma pressão dos representantes do padrão popular e agora surgiu um projeto de lei criando um novo padrão de clones, inferior ao popular, já apelidado pelo povo de padrão bundão. Já imaginou? Se este projeto for aprovado os populares vão querer aumentar de status e atuarem nas funções do standard”.

O eu americano ficou calado, pensativo, da mesma forma que eu me comporto quando estou refletindo, ou quando estou na privada. Aproximei-me e disse: “Bom tempo aquele em que as pessoas nasciam naturalmente e com a inteligência que Deus lhes deu”.  “Não fale assim!”, alertou-me nervoso, “Isso é conversa de conspiração terrorista! O FBI anda investigando uma contaminação do DNA com os genes do suposto falecido Bin Laden! A barra está pesada por aqui!”. 

E como sempre eu faço quando estou apreensivo, alisou os cabelos e apertou o nó da gravata. Confesso que não fui com a minha cara; como eu sou medroso! Característica típica do padrão standard!

quarta-feira, 2 de março de 2016

A retórica do Imperador

A obra “O Imperador” de Conn Iggulden é ficção, mas o autor baseou-se em fatos reais da vida de Júlio César, o Imperador de Roma. Abaixo, algumas frases de César transcritas na obra:

“Um bom pai não estraga os filhos com presentes”.

“Precisamos de esgotos, segurança, comércio honesto e comida barata para viver”.

“Construímos para durar” (...) “Uma rua de cada vez, se for necessário”.

“Dê trabalho para que cada um produza o seu pão, e não fique na dependência da caridade oficial”.

São frases que continuam atuais, embora ditadas 100 anos antes de Cristo. A forma atual de educar os filhos, tanto dos pais quanto das escolas, é de um fracasso retumbante! O ato de dar presentes transformou-se em submissão perante os filhos, uma tentativa de comprar reconhecimento e respeito. Não mais uma retribuição ao bom comportamento, um presente por merecimento. Os pais querem comprar o amor dos filhos, uma maneira de apaziguá-los e compensar o distanciamento entre eles. Os pais estão separados da vida dos filhos e parece que há certo medo de perdê-los, de encarar a realidade ao ponto de confrontá-los. Não há avaliação de mérito em dar presentes, aliás, os próprios filhos escolhem o que querem e exigem que os seus pedidos se cumpram. Uma espécie de suborno afetivo.

Nas escolas, pior ainda. O presente é ser aprovado e “passar de ano”, pouco importa o grau de aprendizado do aluno. Poucas escolas ainda têm a coragem de reprovar um aluno. São raras. As escolas públicas são obrigadas a aprovar todos, estudiosos ou não, comportados ou bagunceiros, ordeiros ou violentos. Um professor de escola pública é humilhado na sala de aula, recebendo ofensas verbais ou físicas, mas é obrigado a baixar a cabeça, não pode reagir nem mesmo com o uso de sua autoridade para expulsar o aluno da sala. Aliás, professor não tem mais autoridade alguma. Esta é a educação que a criança recebe para o seu futuro. As escolas se defendem, dizendo que não lhes cabe educar, mas somente ensinar. Que a família eduque! Acabam não ensinando e nem educando.

Os serviços públicos são, desgraçadamente, vergonhosos. As coisas são feitas de qualquer maneira, apesar de verbas gigantescas que se esvaem nas valas gulosas das propinas e corrupções. O sistema de licitações públicas é de uma hipocrisia absoluta. Antes de iniciá-las já se sabe o vencedor, pois o chamado edital é feito por encomenda, dirigido especificamente para um dos concorrentes. As obras não são feitas para durar, todos de olho em futuras restaurações e mais verbas.

Há um trecho do livro de Iggulden em que alguém diz mais ou menos assim:

“se colocarmos uma segurança para proteger o povo dos ladrões, teremos, no futuro, de colocar outra segurança para proteger o povo da segurança anterior, que ocupará o lugar dos ladrões”. Parece ironia, mas é o que assistimos nos dias de hoje. A milícia foi um exemplo, a polícia, outra. Os bons policiais se perdem na avalanche dos malfeitores e fica a população desconfiada de todos, sem saber a quem pedir socorro. “Pega, ladrão, pega, ladrão!”, já cantava Chico Buarque.

A caridade oficial joga com a ignorância do povo, tentando comprá-lo com míseras dádivas. A estatística demonstra que o desemprego continua alto, mas os melhores cargos técnicos são pouco disputados por falta de candidatos aptos, a não ser para cargos públicos que não exigem experiência na função. E a esmagadora maioria não tem experiência e conhecimento técnico, porque os nossos jovens não recebem educação e ensino. Ou melhor, fingem que recebem. E o governo gosta de manter tal situação, pois diante de um povo devidamente educado perdem-se as rédeas do seu domínio. 

terça-feira, 1 de março de 2016

Os apuros do Prefeito

Da série: Contos Fantásticos

- Alô! É o professor? Como vai o senhor? Aqui é o Hilgurt, Prefeito de Titiquinha!
- Como vai, Prefeito? Tudo bem na sua cidade?
- A coisa tá preta aqui, professor! O dinheiro acabou todinho!
- É a crise, Prefeito.
- Eu estou precisando arrecadar, professor! Eu estava falando aqui com o Trúcio, o secretário geral, e ele recomendou ligar pro senhor. Ele disse que o senhor ajuda nessa coisa de arrecadar!
- Eu não conheço Titiquinha. Qual é a população do Município?
- Contando comigo tem 675 habitantes... Pera aí... O Trúcio! Dona Filó já morreu? Ainda não? Alo! Professor! Pode contar 674, porque tem uma senhora aqui que está nas últimas.
- Está certo. A Prefeitura cobra o IPTU?
- Ptiú? Pera aí... O Trúcio! A gente cobra ptiú? Não? Alô! Professor! A gente não cobra não, mas eu queria cobrar do Fritz, meu adversário político. Eu posso cobrar, não posso?
- Ele tem casa aí?
- Mora na fazenda dele! Esse Fritz cuida de boi.
- Então não pode.
- Mas ele é podre de rico! Não posso cobrar nada dele?
- Se ele é fazendeiro, só o ITR, mas o ITR é imposto federal...
- O Trúcio está dizendo que a gente podia cobrar o INSS... Pera aí... Como é Trúcio? Ah, o ISS!
- A gente cobra o ISS de quem presta serviço...
- Ele vive prestando serviço! Dá esmola pra todo mundo!
- De esmola a gente não pode cobrar ISS, Prefeito.
- E o alvará? Posso cobrar, não posso?
- Fazenda não é considerada estabelecimento para fins de alvará. Não pode cobrar não.
- Mas ele vende boi!
- Ele deve pagar ICMS como produtor rural, mas o ICMS é imposto estadual.
- Ah! Professor! O Trúcio está dizendo que a mulher do Fritz é Veterinária!
- Neste caso, se ela exercer a profissão a Prefeitura pode cobrar o ISS dela. E se ela tiver clínica veterinária na cidade, pode cobrar o alvará da clínica.
- Ela só trabalha na fazenda deles e não tem clínica.
- Bem, se ela só exerce a profissão na sua própria fazenda, vai ser difícil cobrar o ISS. E se não tem clínica, não tem alvará.
- Poxa, Professor! O senhor só atrapalha!
- O que eu posso fazer Prefeito? É preciso seguir a lei.
- Que lei?
- Ora, a lei do Município!
- Mas nós não temos lei nenhuma que trata disso!
- Nossa! Então a coisa é mais complicada ainda!
- O senhor é que complica! Muito obrigado por nada, Professor!
(E bateu o telefone).