sábado, 8 de abril de 2017

As excluídas do jardim


Aqui onde moro, não importa em que bairro, cidade, país, existe uma plantinha singela que, de tão simples, se rejeita sua presença nos jardins harmoniosos das casas e mansões.
Sem direito ao abrigo protetor das terras enriquecidas, da rega diária, do ganho de nutrientes e fertilizantes, a plantinha vive nas ruas e consegue sobreviver aos mais árduos ambientes. Floresce nos cantos do meio-fio, nas junções das pedras da calçada, nas rachaduras do asfalto, nas fétidas sarjetas.
Pois mesmo assim, a lutar contra as agruras impostas pela vida e a enfrentar tamanhas dificuldades, a plantinha, todas as manhãs, abre suas flores dadivosas, e o seu sorriso tímido, mas carinhoso, e consegue disfarçar a feiura das ruas.
Não sabendo o nome da plantinha, e talvez nem nome tenha, como se fosse mais um pobre anônimo das ruas, dei-lhe em batismo informal o apelido de “Bom dia”, porque a plantinha, modesta e acanhada, sempre me acolhe nas caminhadas matinais com a sua radiante saudação: “Bom dia!”.
Parece não se importar com o local insalubre onde vive, com os percalços de viver nas ruas, a sofrer o pisoteio desses humanos poderosos, de ser obrigada a tirar migalhas de alimento do chão petrificado, dos riscos de quem vive ao desabrigo, a plantinha “Bom dia” insiste em abrir suas flores ao sol e alegrar a minha passagem.

Mas, até lá onde procura sobreviver, se local mais adequado não a permitem, a plantinha é perseguida e objeto de destruição. Os garis, autoridades máximas em limpeza das áreas públicas, as dizimam, ceifando-as com suas enxadas e máquinas cortadoras. E mesmo assim, “Bom dia” volta teimosamente a nascer e abrir suas flores, apesar das crueldades que a vida lhe aflige. Resiste aos circunspectos jardineiros e autoritários garis, excluída que é das zelosas floriculturas da elite. 

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